A cultura da sustentabilidade tem feito exigências às empresas pelo mundo. No Brasil, o setor de alimentos e bebidas ainda está descobrindo como se adequar às demandas, segundo especialistas.
Nesse ambiente, tem crescido – ainda que lentamente – a demanda por profissionais para que atuem nas áreas abrangidas pelas pautas ESG (meio ambiente, sociedade e governança).
O sócio-diretor de gestão de riscos financeiros ESG da KPMG no Brasil, Bruno Youssif, menciona algumas posições hoje destacadas para essa pauta. “Para um especialista em sustentabilidade é preciso graduação em Administração, Economia, Engenharias ou Gestão Ambiental”, destaca o sócio da KPMG.
A consultora Lorena Coimbra, diretora executiva e fundadora da Foodtech Consultoria, destaca que o mercado de educação ainda está desenvolvendo soluções mais adequadas para atender a demanda. “As pós-graduações estão vindo agora para atender estratégias dentro do assunto”, diz a consultora.
Veja quais são os cargos de quem atua focado na pauta ESG, as formações superiores e cursos mais pedidos e o salário potencial dessas posições.
Quais são as profissões mais procuradas em ESG?
Bruno Youssif: Um profissional bastante procurado é o especialista em sustentabilidade. Ele tem foco em desenvolver e implementar estratégias de sustentabilidade e reporting e atua em temas como estratégia, governança, reporting, rastreabilidade etc.
Tem também o analista de Compliance ESG, que é aquele profissional dedicado a monitorar a conformidade das operações com regulamentos ambientais e sociais. Esse profissional não necessariamente está dentro de uma estrutura de sustentabilidade.
Outro é o especialista em agricultura sustentável, com foco em práticas agrícolas que minimizem o uso de recursos naturais e promovam a biodiversidade. A depender da indústria, esse profissional também pode estar focado em trabalhos com a cadeia de fornecedores.
E o especialista em alimentos sustentáveis/saudáveis, focado em desenvolver produtos alimentícios que sejam saudáveis e sustentáveis, considerando ingredientes e processos de produção.
Lorena Coimbra: O ESG não tem uma profissão única. O que a gente vê hoje no mercado é técnicos de gestão ou de finanças ou mesmo RH realizando algumas formações dentro da área, e aí pode ser na área só de Governança, Ambiental ou Social. Hoje, eu não tenho um engenheiro de alimentos para atuar no processo de alimentos. O que a gente vê hoje são formações na área para que esses profissionais trabalhem dentro do assunto.
Qual a formação que o profissional precisa ter?
Bruno Youssif: Para um especialista em sustentabilidade é preciso graduação em Administração, Economia, Engenharias ou Gestão Ambiental. Também é comum encontrar profissionais de relações internacionais atuando em sustentabilidade. Pós-graduação ou MBA em Sustentabilidade é um diferencial.
Para analista de Compliance ESG, graduação em Direito, Administração ou Ciências Ambientais. Além disso, certificações em compliance ou auditoria são vantagens.
Especialista em agricultura sustentável requer graduação em Ciências Agrárias, Agronomia, Gestão Ambiental ou Biologia. Experiência em práticas sustentáveis é essencial.
Para ser especialista em alimentos sustentáveis/saudáveis é necessário graduação em Ciência dos Alimentos, Engenharia de Alimentos, ou Nutrição. Especialização em sustentabilidade alimentar é um diferencial.
Lorena Coimbra: Hoje, o que se busca é uma especialização. Quando o profissional vai atuar dentro do segmento dentro da empresa, ele precisa no mínimo de um curso de especialização ou de formação. As pós-graduações estão vindo agora para atender estratégias dentro do assunto.

Qual o salário para esses cargos?
Bruno Youssif: Por conhecimento de mercado, entre R$ 7 mil e R$ 20 mil, a depender da estratégia e ênfase que a empresa quer dar, a região em que atua e disponibilidade de profissionais nessas áreas.
Lorena Coimbra: Como tudo é ainda muito novo, não tem nada fechado. O que a gente tem é um piso salarial de especialista, head e diretoria, mas não por exemplo de analista, de um especialista pode ter um salário de R$ 6 mil a R$ 8 mil. De diretoria você pode chegar a R$ 20 ou R$ 30 mil, mas de analista ainda não tem nada formado no mercado.
Como está a procura por essas qualidades dentro das empresas do setor de alimentação e bebidas?
Bruno Youssif: Há um movimento para incorporar esses profissionais nas empresas iniciando agora. Já é uma realidade em empresas de maior porte e multinacionais, mas ainda incipiente. Há uma tendência forte para os próximos anos, considerando demandas regulatórias, da sociedade e dos mercados consumidores.
Lorena Coimbra: O tema ainda é muito novo, a indústria de alimentos ainda tem outras prioridades, muitas delas estão dentro de um sistema de gestão integrado, muitas delas buscando certificações relacionadas ao meio ambiente.
É uma tendência, sim. Vai vir ainda muito dentro de processos, como reaproveitamento, uso de ingredientes jogados fora, mas não exatamente o assunto ESG completo. A indústria ainda parece que não tem a noção global da importância disso, não são cobradas por isso e também por isso não cobram de seus funcionários.