O mercado de produtos e serviços halal – permitidos para o consumo dos muçulmanos, segundo os preceitos da religião islâmica – está em constante crescimento. Segundo o The State of Islamic Economy Report 2022, o segmento abarca os 57 países membros da Organização para Cooperação Islâmica (OCI), além das nações com grandes comunidades muçulmanas, que movimentam cerca de 5,7 trilhões de dólares anuais.

Segundo dados do Departamento de Inteligência de Mercado da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, em 2022 o Brasil exportou para os países árabes 273,21 mil toneladas de carne bovina, gerando uma receita de 1,04 bilhão de dólares. A receita para aves alcançou 3,16 bilhões de dólares.

Diante dessa evolução, os requisitos de halal estão evoluindo nos principais mercados em relação à confiança tanto de compradores quanto de vendedores.

Conheça a fundo essa tendência.

O que é carne halal?

A carne halal é um tipo de carne permitida para consumo de acordo com as leis alimentares islâmicas, conhecidas como Halal. “Halal” significa “permitido” em árabe. Para que a carne seja considerada halal, ela deve atender a vários critérios, incluindo abate específico e condutas éticas e higiênicas.

Animais como porco e qualquer subproduto derivado estão estritamente proibidos segundo a lei islâmica.

“Existe um conceito errado de que, para ter um produto halal, basta que ele seja certificado, mas é preciso envolver toda a cadeia de suprimento, produção e distribuição nesse processo”, afirmou Marco Tieman, CEO da LBB International, durante pinel realizado no Global Halal Brazil Business Forum, em São Paulo.

Como é feito o abate halal?

O abata segue regras rigorosas estabelecidas pelas leis alimentares islâmicas. O processo envolve os seguintes passos:

  1. Oração: o abatedor (que deve ser um muçulmano) faz uma intenção e recita uma oração chamada “Bismillah” (“Em nome de Deus”) e “Allahu Akbar” (“Deus é grande”) para agradecer a Deus pelo alimento.
  2. Momento do abate: o animal é abatido com um corte rápido, com o intuito de minimizar o sofrimento do animal e garantir uma morte rápida. O corte deve seccionar a traqueia, o esôfago e as artérias jugulares.
  3. Drenagem do sangue: após o corte, o sangue deve ser drenado completamente.

Durante todo o processo, o animal deve ser tratado com respeito e cuidado. Isso significa que ele não deve ser submetido a maus-tratos ou condições desumanas.

A carne deve ser manuseada de acordo com padrões rigorosos de higiene para garantir que permaneça pura e segura para o consumo.

Mercado halal e seu crescimento no Brasil

No Brasil, 7 de suas 34 unidades produtivas seguem os preceitos para produção halal e estão habilitadas para exportação a esses mercados

Para se ter ideia do tamanho do mercado, dados do Ministério da Agricultura e Pecuária indicam que, em 2023, o Brasil exportou mais de 13,6 mil toneladas de frango halal para Malásia, faturando 20 milhões de dólares.

No Oriente Médio, 100% da produção conta com certificação halal. São 5 fábricas e 11 centros de distribuição, além de um Centro de Inovação de Alimentos Halal e escritórios comerciais.

Em agosto de 2023, a BRF anunciou a constituição da joint venture com a Halal Products Development Company (HPDC), subsidiária do Public Investment Fund (PIF), fundo soberano da Arábia Saudita. A criação da nova empresa tem como principal objetivo desenvolver a indústria halal na Arábia Saudita por meio de inovação. O acordo prevê a criação de uma sede para Negócios Halal, um Centro de Inovação de Alimentos Halal e um Centro de Excelência.  

A Marfrig, uma das companhias líderes em carne bovina e maior produtora de hambúrguer no mundo, também está neste mercado. A empresa possui a certificação halal desde 2016 para produtos industrializados e desde 2017 na categoria de bovinos. O que possibilita a maior abertura de mercado para a comercialização, permitindo que os produtos Marfrig cheguem a um maior número de países e clientes.

Leonardo Dall’Orto, vice-presidente de mercado internacional e planejamento da BRF, contou em sua participação no painel que trabalha com o mercado halal há mais de 50 anos. “Quando começamos, o supply chain era só um livro. Hoje podemos dizer que estamos chegando mais próximos aos consumidores finais. Nos últimos dez anos, a BRF passou a operar com distribuição própria no Oriente Médio. Estamos entendendo melhor as necessidades dos consumidores locais.”

Segundo o executivo, a companhia faz remessas de mais de 3.000 contêineres do Brasil para a Oriente Médio, e 60% vão para a sua própria rede de distribuição, de forma integralmente rastreável. “Também temos operações na Turquia, entregando mais de 30.000 toneladas por mês de produtos”, disse Dall’Orto, reiterando que todo esse trabalho utiliza os princípios de logística halal.

O Brasil é sinônimo de qualidade em produtos halal

Ainda durante o painel do Global Halal Brazil Business Forum, Mahmood Al Bastaki, diretor geral da World Logistics Passport (WLP), exaltou o sucesso que os produtos halal brasileiros fazem no mundo, não apenas para os consumidores muçulmanos, mas também para os mercados que exigem mais qualidade.

Leonardo Dall’Orto disse que a BRF já faz isso, ao utilizar os procedimentos empregados na produção de itens halal também para vender seus produtos em outros mercados não muçulmanos. “Utilizar os padrões halal em outros países aumenta a qualidade dos produtos e a segurança alimentar.”

Pessoas reunidas à mesa desfrutando de um banquete, com pratos variados que incluem saladas, carnes halal e acompanhamentos

De acordo com Al Bastaki, quando um consumidor do mundo árabe compra um produto halal feito no Brasil, tem certeza de que o artigo cumpriu todos os requisitos esperados. “É um selo de alta qualidade”, afirmou diretor-geral da WLP.

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Logística

Países localizados em posição geográfica estratégica destacam-se como centros logísticos eficientes para acesso ao mercado islâmico global. E como esses centros podem contribuir para a facilitação do comércio e do investimento?

Al Bastaki explicou que a WLP trabalha com 29 parceiros no Brasil, como portos, operadores de logística, associações como a Fambras e câmaras de comércio. “Nosso objetivo é ajudar o exportador a conseguir benefícios e facilitar suas operações no comércio internacional.”

Segundo Marco Tieman, é preciso alinhar a cadeia de suprimentos em relação aos seus mercados de destino. “Se você estiver exportando do Brasil para o Oriente Médio, por exemplo, será necessário atender aos requisitos do Oriente Médio e, se houver um incidente halal na remessa do produto, precisamos de ferramentas para isolar e investigar o que ocorreu. A tecnologia blockchain pode ajudar a rastrear o problema”, conclui.

Mesa com pratos típicos da culinária do Oriente Médio, incluindo kebabs, saladas frescas, homus e folhados

Para ser halal, alimentos precisam ser certificados

Produtos halal devem ser validadas por instituições islâmicas e muçulmanas certificadas, como a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (FAMBRAS). 

O primeiro passo é realizar a solicitação a uma entidade reconhecida. Ela será responsável por avaliar ingredientes, processos de produção, instalações e documentação da empresa.

Feito isso, uma inspeção será feita nas instalações para verificar se as práticas de produção estão em conformidade com os requisitos da certificação halal.

Caso a empresa atenda a todos os requisitos, a entidade certificadora emite o certificado.

Carne halal vista de cima em mesa decorada com variedade de pratos, incluindo carnes grelhadas, arroz e acompanhamentos coloridos

O mercado halal oferece oportunidades de expansão para empresas comprometidas com qualidade, ética e inovação. Uma vez que a certificação exige padrões rigorosos que vão além do abate e da produção, o halal representa um selo de excelência, reconhecido e valorizado, sobretudo no Brasil.

O alinhamento aos princípios garante que empresas brasileiras atendam às demandas de um segmento em plena expansão, posicionando produtos como referência global em segurança alimentar e confiabilidade.

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