O movimento clean label tem ganhado cada vez mais destaque no mercado alimentício, refletindo um desejo crescente dos consumidores. Essa tendência, além de promover a transparência nas formulações, desafia as indústrias a se adequarem a novas legislações e às demandas de um público mais consciente. Julia Coutinho, nutricionista e sócia-fundadora da Regularium, observa que a reformulação de produtos vai além de cumprir normas regulatórias. Segundo ela, “temos um consumidor mais consciente, esclarecido e exigente, que, juntamente com o órgão regulador, cobra da indústria produtos com menos aditivos e ingredientes artificiais, menos ou sem açúcar adicionado, e baixo em sódio e gordura saturada”.
Com o aumento da procura por alimentos mais saudáveis, impulsionada pela pandemia, a adesão da indústria ao clean label passou de uma escolha estratégica para uma necessidade competitiva. Laís Amaral, coordenadora do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec, destaca a importância de um diálogo contínuo com órgãos reguladores como a Anvisa para discutir o uso de ingredientes controversos, como edulcorantes naturais ou sintetizados em laboratório. Ela alerta para o aumento do uso desses edulcorantes “para escapar da classificação com a lupa do açúcar adicionado”, um tema que ainda precisa de maior transparência e regulação.
Diversos cases ilustram o potencial transformador do clean label. Produtos como o SL GlucOAT Syrup e a bebida em pó Mahta são exemplos de inovações, premiados durante a FiSA 2024, que não apenas atendem às exigências de transparência e naturalidade, mas também promovem a sustentabilidade, como visto nas suas produções com menor impacto ambiental. Iniciativas como essas mostram que a indústria está no caminho certo, substituindo ingredientes artificiais por alternativas naturais, como corantes vegetais e adoçantes derivados de frutas, o que beneficia a percepção do consumidor e fortalece a confiança nas marcas.
Stella Munhoz, gerente de Marketing da Oterra para a América Latina, ressalta que a utilização de produtos naturais não apenas atende às demandas dos consumidores por transparência, mas também promove uma relação de confiança com as marcas. “O consumidor do alimento e bebida se sente seguro e em uma relação de transparência com a indústria quando consegue identificar o que está na lista de ingredientes ao ler no rótulo”.
A maturidade do mercado em relação às práticas de clean label é um processo gradual que exige a colaboração de todos os envolvidos — desde os fabricantes até os órgãos reguladores e os próprios consumidores. O exemplo do Chile, citado por Elaine Guaraldo, sócia-diretora da Vigna Brasil Consultoria para Assuntos Regulatórios, mostra que é possível alcançar uma alta adesão industrial às normas de saudabilidade e uma mudança significativa no comportamento do consumidor. No Brasil, o desafio é alinhar a evolução das práticas de rotulagem com as expectativas crescentes de um público cada vez mais atento e exigente.
No entanto, o processo de adaptação ao clean label não está isento de desafios. A reformulação de produtos tradicionais, a necessidade de investimentos em novas tecnologias e a complexidade de atender às regulamentações locais são alguns dos obstáculos enfrentados pela indústria. Apesar dos desafios, é essencial que as empresas equilibrem a inovação com a conformidade às normas regulatórias, para evitar riscos à saúde e garantir que os benefícios do clean label sejam reais e percebidos pelos consumidores.
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