Com consumidores cada vez mais conscientes sobre saúde e sustentabilidade, cresce a demanda por alternativas naturais ao açúcar e aos adoçantes artificiais. As proteínas doces estão ganhando espaço como uma solução inovadora para adoçar alimentos e bebidas sem comprometer a saúde ou o meio ambiente.
Extraídas de plantas, frutas e até claras de ovos, essas proteínas são mais doces que a sacarose, permitindo seu uso em quantidades mínimas.
Neste artigo, exploraremos o que são as proteínas doces, seus tipos, benefícios, desafios e o papel promissor que podem desempenhar na indústria alimentícia.
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O que são proteínas doces?
As proteínas doces são substâncias naturalmente presentes em algumas frutas, plantas e outros organismos. O que as torna especiais é sua capacidade de adoçar de maneira extremamente eficaz — algumas são até 100 mil vezes mais doces que o açúcar em uma base molar.
Apesar de estarem presentes em quantidades mínimas na natureza, avanços em biotecnologia estão permitindo sua extração e produção em larga escala.
De acordo com Ilan Samish, CEO da Amai Proteins, existem cerca de 200 proteínas doces conhecidas, das quais sete são classificadas como “hiperdoces”, superando em até 3 mil vezes a doçura da sacarose por peso.
A principal diferença entre as proteínas doces e os adoçantes convencionais (naturais ou artificiais) está na interação com o organismo. Enquanto adoçantes artificiais podem interferir no microbioma, ser metabolizados pelo fígado e eliminados pelos rins, as proteínas doces são compostas por aminoácidos essenciais que o corpo utiliza como nutrientes.
Tipos de proteína doce
Diferentes proteínas doces foram descobertas, cada uma com características únicas. A seguir, conheça algumas das mais relevantes.
Taumatina
A taumatina é uma proteína muito doce que pode ser encontrada no fruto da planta tropical Thaumatococcus danielli. Sua forma foi estudada em detalhes e comparada com outras proteínas semelhantes.

Composta por 207 aminoácidos e ligações especiais entre suas moléculas, a taumatina não contém cisteína livre. Quando aquecida a temperaturas acima de 70°C, sua doçura desaparece.
Essa proteína é cerca de 10 mil vezes mais doce do que o açúcar. Porém, seu sabor doce é percebido principalmente por macacos e humanos, pois ela interage com as papilas gustativas desses primatas. Devido a essas características, a taumatina é usada como adoçante e intensificador de sabor em muitos países.
Brazzeína
Proveniente do fruto oubli da África Ocidental, a brazzeína é de 500 a 2 mil vezes mais doce que o açúcar, com a vantagem de ser estável ao calor e ao pH. Além de adoçar, a brazzeína tem a capacidade única de intensificar sabores como o umami, tornando-a especialmente versátil.
Empresas como a Sweegen têm investido em tecnologias para a produção de brazzeína, como a linha Sweetensify, que utiliza fermentação de precisão para fabricar essa proteína em larga escala, dispensando a colheita da fruta oubli em locais remotos.
Recentemente, o grupo Novel Foods anunciou um investimento de 500 milhões de dólares em um centro de produção biotecnológica em Abu Dhabi, focado na fabricação sustentável de brazzeína. Isso demonstra o crescente interesse global por alternativas inovadoras e acessíveis ao açúcar.
Miraculina
A miraculina é uma proteína doce modificadora de sabor encontrada nos frutos da planta Richardella dulcifica, nativa da África Ocidental. O que torna a miraculina única é sua capacidade de transformar sabores ácidos em doces ao interagir com os receptores de sabor na língua.
Essa transformação pode durar até 30 minutos após o consumo, permitindo que alimentos como limões e vinagres sejam percebidos como agradavelmente doces sem adição de açúcar ou calorias.
Embora tenha grande potencial para criar experiências gastronômicas inovadoras, a miraculina enfrenta desafios em sua aplicação comercial.

Sua estabilidade térmica é limitada, o que dificulta o uso em produtos que exigem altas temperaturas no processamento. Além disso, a produção em larga escala ainda é cara, já que depende da colheita dos frutos Richadella dulcifica.
Monelina
A monelina é uma das proteínas doces mais poderosas que se tem conhecimento. Encontrada no fruto Dioscoreophyllum cumminsii, também é nativa da África Ocidental. É composta por duas cadeias de aminoácidos associadas não covalentemente, sendo cerca de 100 mil vezes mais doce que a sacarose em uma base molar e milhares de vezes mais doce em uma base de peso.
A monelina tem um perfil de sabor doce altamente intenso, e quantidades extremamente pequenas já são suficientes para adoçar alimentos. Essa propriedade a torna atraente para a indústria alimentícia, especialmente em produtos que exigem redução de calorias. No entanto, a monelina apresenta limitações relacionadas à estabilidade: é sensível ao calor e ao pH, o que pode levar à desnaturação e perda de suas propriedades adoçantes.
Pesquisas recentes têm desenvolvido variantes mais estáveis da monelina, como a Monelina de Cadeia Simples (SCM). Essa versão projetada geneticamente mantém o poder adoçante da proteína nativa, mas resiste melhor ao calor e a condições ácidas, ampliando suas possibilidades de uso em alimentos e bebidas.
Curculina
A curculina é outra proteína doce única, extraída do fruto Curculigo latifolia, uma planta nativa do sudeste asiático. Sua doçura é comparável a 0,35 mols por litro de sacarose, mas ela possui uma propriedade especial: além de adoçar, a curculina também modifica sabores. Alimentos e líquidos que contenham água ou ácidos, quando consumidos após a curculina, são percebidos como doces.
Uma das vantagens da curculina é sua estabilidade em condições moderadas. Ela mantém suas propriedades adoçantes e de modificação de sabor em faixas de pH entre 3 e 11 e pode ser aquecida a até 50 °C por uma hora sem perder sua atividade.
É a proteína doce mais adequada para aplicações em alimentos ácidos e bebidas, embora sua sensibilidade a altas temperaturas ainda limite seu uso em produtos assados ou processados em temperaturas extremas.
A curculina é ideal para produtos como sucos, vinhos e sobremesas à base de frutas. Além disso, sua característica de modificar sabores abre possibilidades em experiências gastronômicas criativas, especialmente em pratos que combinam acidez e doçura.
Embora promissora, a curculina enfrenta dificuldades na produção em larga escala. O fruto Curculigo latifolia é raro e sua extração é limitada, o que resulta em altos custos e disponibilidade restrita. Pesquisas estão em andamento para viabilizar sua produção por meio de biotecnologia, tornando-a mais acessível ao mercado global.
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Por que as proteínas doces são uma alternativa mais eficaz e saudável em comparação aos adoçantes artificiais?
As proteínas doces estão ganhando destaque como uma alternativa eficaz e saudável ao açúcar e aos adoçantes artificiais. Elas oferecem uma doçura extrema em quantidades muito menores, resultando em menos calorias por produto, sem comprometer o sabor.
Essas proteínas interagem de maneira única com o organismo, proporcionando benefícios nutricionais e sensoriais que as tornam uma opção mais vantajosa.
Maior doçura em menor quantidade
As proteínas doces possuem capacidade adoçante impressionante, algumas são milhares de vezes mais intensa que o açúcar.
Por exemplo, a taumatina, uma das proteínas mais estudadas, é cerca de 10 mil vezes mais doce que a sacarose, enquanto outras, como a monelina, podem ser até 100 mil vezes mais doces.
Como resultado, essas proteínas podem atender à demanda por adoçantes naturais de alta intensidade, reduzindo a necessidade de grandes quantidades de açúcar em alimentos e bebidas.
Baixa caloria
Devido ao seu poder adoçante extremamente elevado, as proteínas doces oferecem uma alternativa com baixo valor calórico, sendo especialmente benéficas para pessoas com necessidades dietéticas específicas. Por serem muito mais doces que o açúcar, essas proteínas podem adoçar produtos com uma quantidade mínima, o que resulta em uma redução significativa na ingestão calórica.
Em comparação com o açúcar, que possui cerca de 4 calorias por grama, as proteínas doces podem ser quase isentas de calorias, tornando-as ideais para pessoas que sofrem de doenças relacionadas ao consumo excessivo de açúcar, como obesidade e diabetes.
Por isso, seu uso não sacrifica a experiência sensorial de sabor doce.
Cuidado com a saúde
Além de seu baixo valor calórico, as proteínas doces oferecem benefícios significativos à saúde, sendo uma alternativa aos adoçantes artificiais. Aspartame e sucralose têm sido alvo de preocupações sobre seus efeitos a longo prazo, como possíveis impactos no microbioma intestinal e no metabolismo.
Por outro lado, as proteínas doces são compostas por aminoácidos essenciais que o corpo utiliza naturalmente, o que as torna uma escolha mais segura e saudável. Elas não sobrecarregam os sistemas digestivos e metabólicos, oferecendo uma alternativa ao açúcar que também pode proporcionar nutrientes benéficos, sem os efeitos adversos associados aos adoçantes sintéticos.

Preservação do meio ambiente
A produção de proteínas doces é significativamente mais sustentável quando comparada ao cultivo tradicional de açúcar ou à fabricação de adoçantes artificiais. Muitas dessas proteínas são produzidas por fermentação de precisão, que utiliza microrganismos para produzir as proteínas de forma eficiente e em grande escala.
Esse processo biotecnológico não depende de grandes áreas agrícolas, como o cultivo de cana-de-açúcar ou beterraba, e consome muito menos recursos naturais, como água e solo. Além disso, a fermentação de precisão reduz a pegada de carbono associada à produção de adoçantes.
Em quais alimentos e bebidas as proteínas doces podem ser incorporadas?
Além dos benefícios associados à saúde e bem-estar, as proteínas doces são versáteis, facilmente incorporadas a diversos tipos de produtos.
Bebidas
A alta intensidade de doçura permite a produção de bebidas com menor teor calórico, sem que o sabor doce seja comprometido. Isso se torna especialmente atrativo para marcas de refrigerantes light e bebidas energéticas com menos açúcar. Essas proteínas podem ajudar a intensificar outros sabores, criando uma experiência mais rica e complexa.
Produtos dietéticos e fitness
Produtos direcionados ao público fitness, como shakes pós-treino e barras de proteína, podem ser adoçados com proteínas doces, mantendo o perfil nutricional equilibrado e atendendo às necessidades de uma alimentação saudável sem sacrificar o sabor.

Sobremesas e confeitaria
No setor de confeitaria, as proteínas doces oferecem uma alternativa ao açúcar para a fabricação de chocolates, balas, sorvetes e bolos. Elas permitem a criação de produtos com menor conteúdo calórico, mantendo o sabor doce e a textura ideal.
A possibilidade de adoçar esses alimentos de forma natural e com um menor impacto calórico é um grande atrativo para quem busca opções mais saudáveis sem abrir mão de uma indulgência ocasional.
Sorvetes e bolos, por exemplo, podem ser adoçados com proteínas como a taumatina, que também tem a vantagem de ser estável em baixas temperaturas, ideal para esse tipo de aplicação.
Produtos gourmet
As proteínas doces também estão sendo exploradas em alimentos gourmet inovadores, incluindo pratos salgados e alimentos com sabores mais complexos.
Essa característica abre portas para aplicações mais criativas, como a utilização em molhos, temperos e até mesmo pratos principais. A capacidade de realçar sabores torna as proteínas doces ideais para chefs e indústrias alimentícias que buscam criar experiências gastronômicas únicas, combinando doçura com outros elementos de sabor.
Desafios
Apesar do grande potencial como uma alternativa saudável e eficaz ao açúcar, as proteínas doces ainda enfrentam alguns desafios significativos que limitam sua adoção em larga escala. Um dos principais obstáculos é o custo de produção e o processamento.
A fabricação em grande escala ainda envolve tecnologias avançadas, como a fermentação de precisão, que pode ser mais cara em comparação a produção de adoçantes artificiais e açúcar convencional. Isso impacta o preço final do produto, tornando as proteínas doces menos acessíveis para certos mercados e consumidores.
Além disso, a integração das proteínas doces em alimentos e bebidas não é uma tarefa simples. Embora elas ofereçam muitos dos benefícios desejados, como baixo valor calórico e intensa doçura, há propriedades do açúcar que elas não conseguem replicar.
Por exemplo, as proteínas doces não proporcionam características importantes como textura, escurecimento e volume, essenciais em certos produtos, como bolos e caramelos. Para compensar essas lacunas, outros ingredientes precisam ser adicionados, o que pode aumentar a complexidade da formulação e influenciar o custo final.
Oportunidades para o futuro
Com o avanço das tecnologias de fermentação de precisão, a produção de proteínas doces está se tornando mais eficiente e sustentável. A utilização de microrganismos para produzi-las em larga escala pode reduzir o impacto ambiental associado à agricultura convencional, como o uso excessivo de água e o desmatamento.
À medida que os processos de produção se tornam mais econômicos e escaláveis, é possível que os preços se tornem mais acessíveis, garantindo uma alternativa viável ao açúcar em uma gama ainda maior de produtos alimentícios e bebidas.

Com o crescente interesse por alimentos personalizados e funcionais, as proteínas doces podem se tornar uma peça-chave nesse mercado em expansão. Elas oferecem não apenas doçura, mas também a oportunidade de incorporar aminoácidos essenciais e outros nutrientes benéficos em alimentos e suplementos.