O micélio de cogumelo é a parte vegetativa dos fungos, composta por uma rede de filamentos finos chamados hifas. Essa estrutura, essencial para a vida dos fungos, é responsável pela absorção de nutrientes e pela sustentação de seus ciclos de vida.

Nos últimos anos, o micélio ganhou destaque na indústria de alimentos por suas propriedades nutritivas e versáteis, oferecendo alternativas inovadoras para a produção de alimentos, como carnes vegetais e produtos fermentados.

A crescente popularidade também está ligada à busca por soluções alimentares mais sustentáveis e à necessidade de produtos que respeitem o meio ambiente.

A seguir, entenda o que é o micélio e como ele pode mudar a forma como vemos a produção de alimentos. Veja quais são as principais tendências e oportunidades que esse ingrediente oferece.

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Benefícios do micélio de cogumelo na alimentação

O micélio de cogumelo tem se destacado como um ingrediente multifuncional na alimentação devido aos seus inúmeros benefícios para a saúde e o meio ambiente.

Rico em proteínas, fibras e compostos bioativos, ele é uma opção nutritiva e sustentável que atende à crescente demanda por alternativas mais saudáveis e ecológicas.

Confira alguns dos principais benefícios do micélio na alimentação:

  1. Fonte de proteínas de alta qualidade, ideal para dietas plant-based e suplementação alimentar.
  2. Alto teor de fibras, auxiliando na saúde digestiva e no controle de peso.
  3. Presença de antioxidantes e compostos bioativos, que podem fortalecer o sistema imunológico.
  4. Produção com baixo impacto ambiental, economizando água e energia em comparação com fontes de proteína animal.
  5. Versatilidade na culinária, podendo ser usado em carnes alternativas, massas, snacks e outros produtos alimentícios.
  6. Sem glúten e com baixo teor de gordura, atendendo a diversas restrições e preferências alimentares.

Esses benefícios tornam o micélio uma adição valiosa à dieta, com vantagens que vão além da saúde, abrangendo também aspectos ecológicos e sustentáveis.

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Por que o micélio de cogumelo é uma aposta inteligente para a indústria alimentícia?

O micélio de cogumelo oferece soluções que vão além da nutrição, abrangendo processos de produção mais econômicos e com menor impacto ambiental.

Por essas razões, ele se destaca em um cenário onde consumidores e empresas buscam por alternativas inovadoras que estejam alinhadas com a responsabilidade ambiental. 

Segundo um artigo publicado no Journal of Agricultural and Food Chemistry, o micélio tem potencial para transformar processos produtivos e agregar valor nutricional a produtos alimentícios. Inclusive, segundo o documento, isso faz dele um ingrediente rico em nutrientes que pode ajudar a combater a fome no mundo.

A flexibilidade do micélio permite que ele seja incorporado em uma ampla gama de produtos, como carnes vegetais, massas, snacks e alimentos fermentados.

Prato com variedade de alimentos feitos com micélio de cogumelo, acompanhado por castanhas e ervilhas

Além disso, o alimento pode servir como uma alternativa para atender a consumidores que buscam opções sem glúten ou com baixo teor de gordura, aumentando a gama de produtos disponíveis para dietas específicas.

Do ponto de vista econômico, o cultivo de cogumelos é relativamente simples e utiliza menos recursos naturais, como água e energia, em comparação com fontes tradicionais de proteína.

Sua capacidade de absorver diferentes sabores e texturas faz com que ele se torne um ingrediente-chave para desenvolver produtos que mimetizam alimentos de origem animal, sem comprometer a experiência de consumo.

Isso ajuda as empresas a reduzirem custos operacionais e adotarem práticas mais sustentáveis, um ponto cada vez mais valorizado por consumidores e investidores.

Qual a percepção dos consumidores sobre alimentos à base de micélio?

Conforme apontado em um estudo publicado na Food Quality and Preference, a aceitação do micélio de cogumelo é influenciada por fatores como a origem do substrato e o nível de processamento.

O micélio, que pode ser cultivado em restos agrícolas e substratos industriais, é uma fonte de proteína promissora, mas isso pode afetar a aceitação do público se vista com repulsa ou com percepção de naturalidade.

Os produtos feitos com micélio mais processado, como hambúrgueres de proteína, são vistos de forma mais positiva e geram menos aversão do que o micélio não processado.

De acordo com o estudo, o substrato usado tem pouco impacto na repulsa, mas afeta um pouco mais a ideia de naturalidade.

Mesmo assim, a aversão ainda tem um papel importante na aceitação final. Os consumidores avaliam os alimentos com base em uma troca entre benefícios e possíveis riscos, além do valor social que enxergam no produto.

Então, enquanto a naturalidade e a repulsa se equilibram nessa balança, a sensação de nojo tem um efeito direto que pode pesar na decisão de consumir ou não.

Para quem produz alimentos à base de micélio, isso significa que vale a pena investir em formas de apresentação que diminuam essa percepção de repulsa e realcem os benefícios, ajudando a tornar o produto mais atraente e natural aos olhos do consumidor.

Vale ressaltar ainda, que, como a escolha do substrato não afeta a aceitação do público, produtores têm mais liberdade para usar esterco, madeira ou glicose, por exemplo.

Várias variedades de cogumelos frescos dispostas artisticamente sobre uma superfície cinza, com folhas verdes ao fundo

Cases e exemplos na indústria de alimentos e bebidas

O micélio tem ganhado destaque em empresas inovadoras ao redor do mundo, e o Brasil não fica de fora. Um exemplo disso é a startup brasileira Typcal, que busca colocar o país no mapa das proteínas de micélio.

A Typcal utiliza tecnologias avançadas para a fermentação de biomassa para cultivar fungos como ingrediente alimentar, criando uma alternativa sustentável e nutritiva para alimentos à base de plantas.

A startup tem atraído a atenção por sua abordagem única, unindo inovação e sustentabilidade. Isso reflete um movimento crescente no Brasil e na América Latina em direção a soluções alimentares que respeitam o meio ambiente e aproveitam recursos locais.

Na Europa, a inovação com micélio também está em alta. Um exemplo disso é a empresa espanhola Innomy, que utiliza micélio junto a tecnologia de fermentação de precisão para reproduzir a consistência macia e fibrosa da carne.

Essa abordagem busca não só atender à demanda por alimentos mais saudáveis e sustentáveis, mas também oferecer produtos que sejam acessíveis e mantenham uma boa experiência sensorial.

Outro grande nome no setor é a Libre Foods, uma startup de Barcelona que está transformando o mercado de substitutos de carne com produtos à base de micélio.

A Libre Foods se destaca pelo desenvolvimento de alternativas como bacon, filé bovino, aves, frutos-do-mar e outros produtos cárneos feitos com micélio. 

Esses exemplos mostram que tanto startups quanto empresas mais consolidadas enxergam no micélio uma oportunidade de criar produtos diferenciados que acompanhem as tendências de consumo consciente e dietas plant-based.

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Tendências e oportunidades para um futuro sustentável

O futuro é promissor. As tendências para o uso do micélio na indústria apontam para um crescimento significativo nos próximos anos, impulsionado pela busca por soluções mais sustentáveis e inovadoras.

Segundo um relatório da Straits Research, o mercado global de micélio, que foi avaliado em 3,1 bilhões de dólares em 2023, está projetado para alcançar 6,5 bilhões de dólares até 2032.

Esse crescimento reflete não apenas o aumento da conscientização ambiental dos consumidores, mas também a capacidade do micélio de oferecer soluções versáteis e de baixo impacto ecológico.

A demanda por alimentos que combinem nutrição e sustentabilidade tem levado empresas a investir no desenvolvimento de produtos à base de micélio. Essa tendência abre oportunidades para a criação de alimentos plant-based nutritivos, atendendo a consumidores que buscam reduzir o consumo de carne sem comprometer sabor e textura.

hamburguer plant based feito com micélio de cogumelo

Com a popularidade crescente, empresas que adotam o micélio em suas linhas de produtos podem se beneficiar de um mercado em expansão, impulsionado por um público que valoriza práticas éticas e sustentáveis.

Esse movimento não se limita apenas ao setor alimentício; o micélio também está sendo explorado em cosméticos, têxteis e até na construção civil, mostrando seu potencial multifacetado e as oportunidades que ele oferece para uma variedade de indústrias.

Portanto, o futuro desse ingrediente no setor de alimentos e em outras áreas é promissor. Com o crescimento projetado do mercado e o aumento da conscientização em torno da sustentabilidade, as empresas que apostarem no uso desse ingrediente estarão alinhadas às demandas de um mundo mais ecológico e inovador.

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