Com o avanço do movimento clean label e a crescente preocupação dos consumidores com os impactos dos ingredientes artificiais, a indústria de alimentos está cada vez mais voltada para a busca de soluções naturais.
Nesse contexto, os corantes naturais emergem como alternativas estratégicas e alinhadas às tendências de consumo.
Em um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, através do Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos, foi observado que, entre 3.475 alimentos comercializados, 28,7% continham pelo menos um corante, sendo o urucum (8,43%), caramelo (7,68%) e cúrcuma (5,47%) os mais comuns. O corante Tartrazina (INS 102), com uma frequência de uso de 2,62%, foi identificado como o corante artificial mais utilizado.
O apelo “não prejudicial à saúde” está moldando a prioridade por produtos mais saudáveis e impulsionando a reformulação de muitos itens nas prateleiras. Veja, a seguir, alguns dos principais tipos de corantes naturais para utilizar em alternativa aos artificiais.
Principais tipos de corantes naturais
A aparência dos alimentos é um fator essencial para atender à preferência do consumidor. Embora a tendência clean label seja crescente, muitas empresas enfrentam desafios ao investir em corantes naturais extraídos de plantas.
Esses ingredientes, além de fornecerem cores vibrantes, atendem à demanda por produtos mais saudáveis e menos processados. Alguns dos mais usados na indústria são:
Amido de arroz
O amido de arroz é extraído dos grãos de arroz e utilizado principalmente como agente espessante, estabilizante e corante branco em diversos alimentos.
Em sua forma natural, não tem cor, mas pode ser combinado com outros ingredientes para melhorar a textura dos alimentos e dar uma aparência mais atraente a produtos como confeitos, cremes e molhos.
Ele também é usado em produtos que precisam de uma aparência opaca, como algumas bebidas e suplementos alimentares.
Antocianina
A antocianina é um pigmento de origem natural extraído de frutas e vegetais, como uvas, mirtilos, beterraba e repolho roxo. Ela confere tons que variam do vermelho ao azul e roxo, dependendo do pH do alimento.
Esse corante natural é amplamente utilizado em produtos como bebidas, geleias, iogurtes, doces, sendo um dos principais corantes naturais para confeitaria.
Betalaína
A betalaína é extraída da beterraba e proporciona uma coloração que vai do rosa vibrante ao vermelho-escuro. Por sua tonalidade marcante e seu caráter natural, é bastante usada em produtos como sorvetes, bebidas, confeitos e sobremesas.
Além da coloração, a betalaína também é valorizada por suas propriedades antioxidantes, o que a torna uma escolha saudável para alimentos funcionais.
Cúrcuma
A cúrcuma, conhecida por suas propriedades anti-inflamatórias, é uma raiz que oferece um pigmento amarelo forte e diversos benefícios à saúde, como a melhoria da digestão e a redução do risco de doenças crônicas.
Extraída da planta Curcuma longa, essa especiaria é amplamente utilizada na culinária indiana e asiática. Na indústria de alimentos, a cúrcuma é empregada como corante natural em pó em uma variedade de produtos, incluindo macarrões, mostardas, sorvetes, queijos, salgadinhos tipo chips, margarinas e carnes.
Luteína
A luteína é um pigmento extraído de vegetais de folhas verdes, como espinafre e couve, e também de algumas flores, como a calêndula. Sua coloração varia entre o amarelo e o laranja.
Ela é muito usada em produtos como bebidas, manteigas, margarinas e óleos vegetais, além de ser valorizada por seus benefícios à visão, tornando-se uma escolha popular para alimentos funcionais.
Cártamo
O cártamo, uma planta com flores amarelas, é a origem do corante de mesmo nome, que proporciona colorações que variam do amarelo ao vermelho. Este corante é amplamente utilizado em produtos de panificação, laticínios e molhos.
Além de suas propriedades colorantes, o cártamo também é conhecido por oferecer benefícios à saúde, como a promoção de um perfil lipídico saudável e a redução da inflamação, devido à presença de ácidos graxos essenciais em suas sementes.
Clorofila
A clorofila é um pigmento verde natural presente em diversas plantas, incluindo espinafre, agrião e alfafa. Na indústria de alimentos, esse corante é amplamente utilizado para conferir uma coloração verde a uma variedade de produtos, como massas, doces, chicletes e bebidas.
Estudos sugerem que a clorofila pode ajudar a neutralizar radicais livres, promovendo uma saúde melhor e auxiliando na eliminação de toxinas do organismo. Além disso, a clorofila é frequentemente associada a dietas saudáveis, reforçando a imagem de produtos que a utilizam como ingrediente.
Caroteno e betacaroteno
O caroteno e o betacaroteno são pigmentos extraídos de fontes naturais como cenoura, abóbora e batata-doce. Eles fornecem coloração que vai do amarelo ao laranja profundo, sendo amplamente utilizados em produtos lácteos, sucos, sorvetes e margarinas.
Além de ser um corante eficaz, o betacaroteno também é uma importante fonte de vitamina A, o que agrega valor nutricional aos produtos.
Urucum
O urucum é extraído das sementes da planta de mesmo nome, e oferece uma coloração vibrante que varia do amarelo ao laranja-avermelhado.
Ele é muito utilizado em alimentos como queijos, margarinas, temperos, carnes processadas e snacks. O urucum é uma das opções mais populares entre os corantes naturais, devido à sua estabilidade e origem vegetal.
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Normas e regulamentações sobre corantes
A utilização de corantes alimentícios é regida por normas e regulamentações que visam garantir a segurança dos consumidores e a qualidade dos produtos.
Essas diretrizes são essenciais para assegurar que os ingredientes usados sejam seguros e que os rótulos informem de maneira clara e precisa sobre a composição dos alimentos.
Com a crescente demanda por transparência, especialmente em relação aos corantes naturais, as regulamentações se tornam ainda mais relevantes.
Resolução nº 4/2007
A Resolução nº 4/2007, publicada pela Anvisa, estabelece normas gerais para a utilização de corantes e aditivos alimentares. Essa resolução define os tipos permitidos e os limites de uso, além de regulamentar a rotulagem, assegurando que os consumidores sejam informados sobre a presença de corantes nos produtos.
Essa norma também aborda a segurança dos corantes, exigindo que sejam avaliados quanto aos seus efeitos à saúde antes de serem aprovados para uso em alimentos. A clareza nas informações e a proteção do consumidor são, portanto, prioridades dessa regulamentação.
Resolução nº 727/2022
A Resolução nº 727/2022 traz atualizações importantes sobre a rotulagem de corantes, especialmente aqueles de origem sintética. Esta norma introduz novas exigências para a apresentação de informações sobre reações adversas que alguns corantes podem causar, como a tartrazina.
A partir dela, a Anvisa busca aumentar a conscientização dos consumidores sobre os potenciais riscos associados ao consumo de produtos que contêm corantes artificiais. As empresas devem, portanto, estar atentas a essas exigências para garantir que seus produtos estejam em conformidade e sejam aceitos no mercado.
Resoluções nº 382 a 388 de 1999
As Resoluções nº 382 a 388 de 1999 foram um marco na regulamentação de aditivos e corantes alimentares no Brasil. Essas normas estabelecem critérios de segurança e eficácia para o uso de diferentes tipos de corantes, tanto naturais quanto sintéticos.
Além de especificar quais substâncias são permitidas, as leis abordam os limites máximos de uso e as condições de aplicação. O objetivo é proteger a saúde pública, assegurando que os alimentos comercializados sejam seguros e que os consumidores possam fazer escolhas informadas sobre o que estão ingerindo.
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Exemplos e cases na indústria alimentar
Algumas empresas são pioneiras na fabricação de corantes naturais. Confira dois casos a seguir:
Concentrados EXBERRY®
Os concentrados EXBERRY®, produzidos pela GNT, são um marco no uso de corantes naturais para alimentos, combinando inovação e sustentabilidade. Desde 1978, a GNT desenvolve soluções para colorir alimentos usando outros alimentos, sem o uso de solventes ou produtos químicos, o que responde à crescente demanda por ingredientes mais naturais e menos processados na indústria alimentícia.
O processo de produção dos concentrados EXBERRY® é essencialmente semelhante ao que qualquer pessoa faria em casa ao extrair sucos de vegetais. Ingredientes como abóbora, cenoura, cúrcuma, espirulina, batata roxa, cenoura preta e hibisco são misturados em proporções específicas para atingir as cores desejadas, garantindo um resultado vibrante e estável.
A grande diferença está na escala industrial. A empresa utiliza equipamentos sofisticados e controla rigorosamente o processo de evaporação da água, mantendo o apelo natural e saudável dos ingredientes.
A flexibilidade das combinações de vegetais e frutas garante uma paleta de cores variada, que vai do amarelo ao vermelho, passando por tons de verde e roxo, com total segurança alimentar e qualidade sensorial.
Döhler
Uma das principais inovações no setor de corantes naturais é o White Diamond®, desenvolvido pela empresa alemã Döhler, uma marca com mais de 180 anos de tradição no mercado de alimentos.
O corante natural branco surge como uma alternativa promissora ao dióxido de titânio (E171), que, apesar de ainda ser permitido em algumas regulamentações, tem sido amplamente questionado por organizações ligadas ao direito do consumidor.
O White Diamond® é 100% à base de plantas, o que o torna uma excelente escolha para produtos veganos. Ele é altamente versátil e pode ser incorporado em uma variedade de aplicações, desde confeitos e suplementos alimentares até produtos para animais.
Além de conferir uma coloração branca e turbidez sem alterar o sabor dos alimentos, o ingrediente também oferece benefícios nutricionais.
Segundo Norbert Goldberg, Head de Marketing & Business Units NPI do DöhlerGroup, o produto pode contribuir com o fornecimento de cálcio quando usado em combinações específicas ou em dosagens apropriadas, agregando valor nutricional a alimentos, bebidas e suplementos, sendo uma opção estratégica para atender às crescentes demandas dos consumidores por produtos mais saudáveis e menos artificiais.
Além do White Diamond®, outras alternativas ao E171 também estão ganhando espaço no mercado, como o carbonato de cálcio e o amido de arroz, opções eficazes para substituir corantes sintéticos e atender às regulamentações mais rigorosas em relação ao uso de aditivos.
A Döhler também oferece um portfólio diverso de tonalidades amarelas e laranjas para substituir a tartrazina. Ingredientes de matérias-primas como cúrcuma, luteína, carotenos, cártamo e beta-carotenos entregam qualidade e estabilidade em tons de amarelo e laranja vibrantes em uma diversidade de aplicações, como confeitos, energéticos, refrescos em pó, sorvetes e gelatinas.
Por que os corantes naturais são uma tendência no setor de alimentos?
O avanço das tecnologias de extração de corantes naturais tem permitido que a indústria os incorpore com mais eficiência, garantindo estabilidade nas formulações e uma ampla gama de cores.
Essa evolução também reflete preocupações com a sustentabilidade e aceitabilidade de um produto, já que muitos desses corantes são derivados de fontes vegetais e possuem menor impacto ambiental.
Assim, os corantes naturais são mais que uma tendência, mas uma mudança definitiva no mercado, beneficiando tanto os consumidores quanto as empresas, que conseguem inovar com produtos mais saudáveis e atraentes.
Com a crescente conscientização dos consumidores e as mudanças na regulamentação, o uso desses corantes tende a se expandir, tornando-se uma estratégia essencial para as empresas que buscam se destacar e prosperar em um mercado cada vez mais competitivo e orientado por escolhas conscientes