A busca por alternativas ao cacau tem impulsionado inovações no mercado de chocolates. Motivos como sustentabilidade, restrições alimentares e variações de preço levam a indústria a explorar novos ingredientes para substituir o tradicional cacau e a manteiga de cacau para a produção de chocolates. 

Entre as opções mais promissoras estão a alfarroba, o pó de cupuaçu e outros insumos naturais, que garantem sabor e textura similares ao chocolate convencional.

Além de atender ao público vegano e àqueles que buscam um consumo mais sustentável, os substitutos do cacau em receitas oferecem benefícios nutricionais distintos. Mas, afinal, o que usar para substituir o cacau? 

A seguir, explore essas alternativas e entenda como elas podem transformar a indústria do chocolate.

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Por que buscar alternativas ao cacau?

A indústria do chocolate enfrenta desafios crescentes devido à produção de cacau, desde impactos ambientais até oscilações no mercado global. 

O cultivo do cacau contribui significativamente para o desmatamento, especialmente na África Ocidental, onde cerca de 70% da produção mundial está concentrada. 

A conversão de florestas tropicais em plantações compromete ecossistemas e aumenta emissões de carbono. Segundo estimativas, a produção de grãos de cacau gera 1,47 kg de CO₂e por kg, enquanto alternativas como favas e cereais emitem até 75% menos carbono.

A consequência é uma oscilação nos preços: nos últimos meses, o valor da tonelada de cacau saltou para mais de 12 mil dólares, um aumento de quase 300% desde janeiro. 

Essa instabilidade ameaça fabricantes e consumidores, tornando alternativas ao cacau uma necessidade para manter a oferta estável.

Além disso, o consumo de água no cultivo do cacau é alarmante. Para cada tonelada colhida, são utilizados em média 18.876 m³ de água, enquanto ingredientes como cevada e aveia demandam entre 1.000 e 3.000 m³. 

Com a crescente escassez hídrica, reduzir essa pegada se torna um objetivo prioritário para a indústria de chocolates. Esses números reforçam o impacto positivo que as alternativas ao cacau podem ter na sustentabilidade da indústria do chocolate

O Chocolate Doce Sem Cacau da Voyage exemplifica essa mudança, reduzindo a pegada de carbono em 67%, diminuindo os impactos no uso do solo em 78% e cortando a pegada hídrica em 93%. 

Essa inovação demonstra que é possível criar produtos saborosos sem depender exclusivamente do cacau, minimizando os efeitos ambientais negativos e garantindo uma produção mais sustentável.

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O que usar para substituir o cacau?

A busca por alternativas ao cacau tem crescido, seja por questões ambientais, restrições alimentares ou até mesmo para oferecer opções mais nutritivas. O que é parecido com cacau? 

Entre os substitutos mais populares, a alfarroba se destaca, oferecendo sabor e textura semelhantes ao chocolate, sem a necessidade de adição de açúcar ou gorduras em excesso.

Além da alfarroba, outras opções incluem o pó de cupuaçu, que tem um perfil aromático frutado e um toque amargo natural, e a manteiga de cacau alternativa, feita a partir de óleos vegetais que imitam a textura e a funcionalidade da manteiga de cacau tradicional. 

Mas qual fruta substitui o cacau? O cupuaçu, nativo da Amazônia, é um dos exemplos mais viáveis, pois compartilha características sensoriais com o cacau e pode ser utilizado na fabricação de chocolates sem cacau.

Alfarroba

A alfarroba em pó tem sido amplamente adotada na indústria de chocolates e confeitaria como um substituto de chocolate natural e versátil. Rica em vitaminas A, B2, B3, B6 e D, além de minerais essenciais, a alfarroba apresenta um perfil nutricional atrativo. 

Seu baixo teor de gordura e a ausência de lactose e glúten fazem dela uma excelente opção para quem segue uma alimentação vegana ou possui restrições alimentares.

No quesito sabor da disputa alfarroba versus cacau, há algumas diferenças: enquanto o cacau possui um amargor característico, a alfarroba tem um gosto naturalmente mais adocicado, eliminando a necessidade de grandes quantidades de açúcar no preparo de sobremesas. 

Por essa razão, o pó de alfarroba para sobremesas tem se tornado uma escolha popular entre consumidores que buscam alternativas mais saudáveis para chocolates convencionais.

Imagem que mostra vagens e pó de alfarroba, destacando seus benefícios e usos na culinária e nutrição saudável. Ideal para receitas e dietas.
Opções no mercado

A Foreverland criou o Freecao, um chocolate à base de alfarroba em pó, uma leguminosa nativa do Mediterrâneo conhecida por sua resistência climática. 

Como inovação, a marca lançou o primeiro ovo de Páscoa sem cacau do mundo, utilizando exclusivamente essa matéria-prima sustentável.

No Reino Unido, a WNWN Food Labs Ltd aposta em uma combinação de alfarroba e cevada britânica para criar chocolates sem cacau. 

O diferencial da empresa está na tecnologia: utilizando espectrometria de massa por cromatografia, a startup consegue replicar o sabor e a textura do cacau, trazendo um produto que se aproxima das características sensoriais do chocolate tradicional. 

No Brasil, a Carob House tem uma linha de produtos com o ingrediente. A marca produz barrinhas, tabletes, drágeas, creme de avelã e mistura solúvel para bebidas, entre outros, para veganos e pessoas com restrições alimentares.

Fava

A fava tem ganhado destaque como uma das alternativas ao cacau mais promissoras na indústria de chocolates. 

Originária da região do Mediterrâneo e cultivada amplamente na Europa, essa leguminosa se destaca pelo alto teor de proteínas e pela capacidade de fixação de nitrogênio no solo, o que contribui para práticas agrícolas mais sustentáveis.

Além disso, seu cultivo requer menos recursos hídricos e pode reduzir a dependência de fertilizantes químicos, tornando-a uma escolha sustentável para a produção de chocolate sem cacau.

Em termos de sabor, a fava pode ser transformada por meio da fermentação e torrefação, um processo semelhante ao aplicado aos grãos de cacau, resultando em um aroma e paladar que lembram o chocolate. 

Segundo a startup britânica Nukoko, as favas contêm vicilina, uma proteína que, quando fermentada, adquire um perfil de sabor próximo ao cacau ganês.

O potencial da Nukoko chamou a atenção de investidores, resultando em um financiamento inicial de 1,5 milhão de dólares para ampliar a produção. 

Diante do aumento expressivo no preço do cacau e das incertezas climáticas que afetam as colheitas, a empresa busca oferecer uma alternativa sustentável e acessível para o setor.

Sementes de girassol e aveia

O uso de sementes de girassol e aveia como substitutos do cacau tem ganhado espaço na indústria de chocolates, graças ao seu potencial nutricional e impacto ambiental reduzido. 

Empresas inovadoras, como a alemã Planet A Foods, desenvolveram produtos como o ChoViva, um chocolate alternativo feito a partir dessa combinação de ingredientes.

Ricas em proteínas, fibras e gorduras saudáveis, as sementes de girassol oferecem um sabor levemente amendoado, podendo substituir o cacau em algumas formulações sem comprometer a textura

Seu cultivo também apresenta vantagens ambientais, demandando menos água e menos emissões de carbono em comparação com o cacau.

A aveia tem um sabor suave e levemente adocicado, tornando-se uma ótima base para chocolates alternativos. Rica em beta-glucanas, auxilia no controle do colesterol e contribui para a saciedade. 

“Por ser feito da aveia, que já é naturalmente adocicada, o chocolate possui 30% a menos de açúcar do que os feitos com cacau”, explica Natasha Pádua, co-fundadora da Upcycling Solutions.

Além disso, sua textura cremosa melhora a consistência de produtos plant-based, ajudando a recriar a experiência do chocolate tradicional sem a necessidade de laticínios.

Empresas como a Voyage Foods também estão explorando esses ingredientes na criação de substitutos de chocolate e pastas de nozes

Usando uma combinação de sementes de girassol, uva e aveia, essas marcas buscam oferecer opções sustentáveis, com menor impacto ambiental e sem os desafios da produção convencional de cacau.

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Centeio maltado e óleo de coco

O uso de centeio maltado e óleo de coco é uma combinação que vem sendo testada na indústria de chocolates. 

A confeitaria finlandesa Fazer desenvolveu uma edição limitada de um chocolate sem cacau com esses ingredientes, aproveitando matérias-primas locais e reduzindo o impacto ambiental da produção.

O centeio maltado confere um sabor levemente adocicado e tostado, lembrando notas de caramelo e nozes, aproximando-se do perfil de sabor do chocolate tradicional

Rico em fibras, vitaminas do complexo B e antioxidantes, ele favorece a digestão e ajuda na saúde intestinal. Seu cultivo, comum na Europa, exige menos recursos naturais, tornando-se uma alternativa viável ao cacau.

Já o óleo de coco é um dos ingredientes mais utilizados na substituição da manteiga de cacau, por sua textura cremosa e sabor suave. 

Fonte de triglicerídeos de cadeia média (TCMs), é rapidamente absorvido pelo organismo e pode fornecer energia de forma eficiente. Além disso, tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, favorecendo a saúde metabólica.

Cupuaçu

O cupulate é uma das alternativas ao cacau mais promissoras do mercado, feito a partir das sementes do cupuaçu, fruta típica da Amazônia. Com sabor levemente ácido e frutado, o cupulate mantém características similares às do chocolate. 

Diferente do cacau, cuja composição tem 50% de sólidos e 50% de óleo, o cupuaçu possui 80% de óleo, o que confere ao cupulate uma textura cremosa e macia

Esse perfil faz com que o produto seja mais suave ao paladar, derretendo de maneira agradável na boca. Além disso, a ausência de cafeína o torna uma alternativa interessante para quem deseja evitar estimulantes.

A marca MONJOLO é uma das referências na produção de cupulate, oferecendo uma versão intensa, com 70% de cupuaçu proveniente de Ilhéus, na Bahia. 

Com apenas dois ingredientes – cupuaçu e açúcar demerara orgânico –, a barra é uma opção vegana, sem glúten e sem lactose, atendendo a consumidores que buscam produtos naturais e sustentáveis.

“No Brasil, o cupulate está aos poucos ganhando espaço. Feito com amêndoa do cupuaçu no lugar do cacau, ele é comercializado em todo o Brasil por marcas como a Amma, De Mendes, Onveg entre outras”, afirma Natasha Pádua. 

Uma tigela com sementes de cupuaçu, em cima de uma superfície escura. Algumas sementes estão espalhadas ao lado da tigela. A imagem destaca a textura e a cor dos grãos de cupuaçu.

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Alternativas fermentadas

O uso da fermentação permite recriar o sabor e a textura do chocolate tradicional, utilizando subprodutos vegetais e biotecnologia de ponta

A Prefer, conhecida por seu café sem grãos, está desenvolvendo uma alternativa ao chocolate sem cacau baseada em fermentação e ingredientes de origem local. 

Com financiamento de 2 milhões de dólares captados em 2024, a Prefer planeja lançar sua primeira grande remessa de chocolate fermentado no primeiro trimestre de 2025

Inicialmente, o produto será fornecido como ingrediente B2B para indústrias alimentícias, mas a empresa também prevê experiências de consumo direto através de pop-ups em Singapura.

“O chocolate sem cacau da WNWN é elaborado a partir de cevada e alfarroba, através de fermentação tradicional, evitando a necessidade de aprovação regulatória que os produtos de chocolate fermentados com precisão necessitam”, diz Natasha Pádua, da Upcycling Solutions. “Para completar os atributos do produto, depois de testar entre 30 e 40 tipos de gorduras, eles escolheram a manteiga de karité, que possui características semelhantes à manteiga de cacau.”

Oportunidades para investir no mercado de alternativas ao cacau

O aumento da preocupação com o impacto ambiental da produção de cacau e a volatilidade dos preços impulsionam o desenvolvimento de novos ingredientes.

O investimento nesse setor abre portas para marcas inovadoras que apostam em chocolate vegano, cacau em pó sem açúcar e formulações sem alérgenos, atendendo públicos que seguem dietas plant-based ou têm restrições alimentares. 

Além disso, ingredientes funcionais como pó de cacau cru, proteínas vegetais e compostos antioxidantes agregam valor nutricional e atraem consumidores preocupados com saúde e bem-estar.

Empresas que incorporam manteiga de cacau alternativa e tecnologias de fermentação na formulação de substitutos de chocolate ganham destaque no setor. 

Esse movimento é impulsionado pela crescente demanda global por alternativas veganas ao cacau, garantindo novas oportunidades de mercado e expansão internacional para marcas focadas em sustentabilidade e inovação.

Com marcas globais investindo no desenvolvimento de substitutos do cacau em receitas, a tendência é que mais consumidores adotem esses produtos, seja por questões ambientais, restrições alimentares ou simplesmente para explorar novos sabores. 

O avanço das tecnologias de fermentação, os benefícios nutricionais da alfarroba em pó e o uso de ingredientes naturais reforçam o potencial desse mercado para os próximos anos.

Para as empresas do setor, investir em alternativas veganas ao cacau não é apenas uma resposta às mudanças do mercado, mas uma estratégia de longo prazo para garantir inovação, sustentabilidade e um posicionamento forte em um segmento que só tende a crescer.