Imagine um happy hour com os amigos numa sexta-feira à noite, com boa música, um drink saboroso e uma porção de insetos fritos? Em alguns países da África e da Ásia, esse cenário é bastante comum. Aqui no Brasil, o insect-based food – alimentação baseada em insetos – ainda causa estranhamento. Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), informam que cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo inteiro já inserem em suas rotinas, essa prática. Isso porque, algumas pesquisas mostram, que a composição nutricional dos insetos corresponde a um percentual elevado de proteínas e minerais.
A antropoentomofagia, termo conhecido como a prática do consumo de insetos pelos seres humanos, tem ganhado espaço quando o assunto é alimentação do futuro. Isso porque, a sua composição nutricional é superior a outras opções convencionais. A formiga da espécie Atta cephalotes (tanajura), por exemplo, muito conhecida no estado do Ceará, possui mais proteínas (42,59%) do que a carne de frango (23%) ou bovina (20%), além de ser rica em cobre, ferro, magnésio, manganês, fósforo, selênio, zinco e fibras.
Outro ponto bastante discutido sobre a prática, condiz com as questões do meio ambiente. Dados de uma análise do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), apontam que o setor agropecuário, foi responsável por aproximadamente 20% das emissões de gases de efeito estufa em 2017. Um percentual bastante expressivo, se considerado que a criação de insetos, pode emitir menos gases de efeito estufa, por necessitar de quatro vezes menos insumos (ração), que a criação de gados.
De fato, ainda é cedo para projetar o crescimento desse mercado no Brasil, mas por outro lado, o consumo de lagostas, caranguejos, ostras, polvo, rã, e mais uma infinidade de animais que no início eram considerados excêntricos aos olhos do consumidor, e hoje são vistos com normalidade.
Eu acompanho o assunto há 5 anos, quando conheci o professor Casé de Oliveira (também conhecido como Bug´s Cook – @caseoliveirabugscook), embaixador da gastronomia sustentável e presidente da ASBRACI – Associação Brasileira dos Criadores de Insetos. Com ele experimentei pela primeira vez o “tenébrio lemon pepper” e depois levei a iguaria para degustação em palestra sobre inovação numa grande multinacional de ingredientes. Foi o maior sucesso, juntamente com o “chocogrilo”, um chocolate bean to bar com inclusões de grilo.
O tabu alimentar é cultural e ainda grande no Brasil, embora tenhamos um país da América Latina (México) que consome grilos como uma iguaria da culinária. Por aqui, em terras tupiniquins, é fundamental promover educação alimentar e conscientização sobre os benefícios dos insetos, além de desenvolver produtos em que esses ingredientes sejam incorporados de forma discreta e aceitável ao paladar ocidental. A startup Hakkuna (@hakkuna_brasil) faz isso muito bem, promovendo o uso da farinha de grilo em chocolates, bolos, pães etc. como um ingrediente seguro.
Dessa forma, o consumo de insetos em breve, pode ser algo menos inusitado do que o esperado, ainda mais considerando o recente anúncio da União Europeia permitindo usar farinha do besouro tenébrio (Tenebrio molitor) em alimentos como pães, massas e queijos.
Eu acredito que a área de P&D deveria investir em pesquisa e desenvolver opções seguras, saborosas e nutritivas, juntamente com uma estratégia de marketing promovendo a aceitação e confiança do consumidor. Fica a dica!