O empreendedor do setor de food service, assim como o cidadão em geral, lembra da energia normalmente quando ela falta. Isso porque, nesse tipo de atividade, sem energia, a operação fica totalmente comprometida. 

No apagão de 2024, o varejo de São Paulo teve um prejuízo de mais de 1,6 bilhão de reais. Boa parte dessa conta ficou com o setor de alimentos por trabalhar com produtos perecíveis que muitas vezes precisam da ambientação correta, fornecida principalmente pelas redes elétricas. 

Assim, é ainda mais urgente que os empreendedores do setor encontrem soluções para aumentar a eficiência energética, reduzir gastos e gerir bem esse recurso. 

A abertura do mercado livre de energia para empresas menores ofereceu oportunidades de redução de custos, mas, como alerta Lara Vieira, CPO e sócia do Grupo Eneergia, “não é só uma solução pontual sobre como economizar, mas sobre como eu vou fazer isso e por que é importante”. 

Mais do que ter novas matrizes disponíveis ou poder comprar de diferentes distribuidores, o empreendedor deve ter em mente o que precisa para resolver seu problema. 

Como ser mais racional no uso de energia? 

A Eneergia, junto com o Sebrae, desenvolveu a jornada de custo-consumo-geração. O serviço é gratuito e feito em cima da análise da conta de luz da empresa. “A gente tem um software que faz análise de contrato de energia, de mercado livre e de uma série de possibilidades e a gente adaptou esse software para trabalhar junto ao Sebrae nessa jornada”, explica Vieira. 

Primeiro, a Eneergia e o Sebrae olham a situação atual da empresa falando em uso de energia. Isso significa entender quem a empresa é perante a concessionária. 

Ou seja, o consumo médio, as horas de intensidade de consumo, entre outros pontos que deem detalhes sobre o perfil do consumo. Depois, é feito um trabalho de consultoria, e parte dela pode ser feita de maneira gratuita, para dar os primeiros passos para o uso mais racional de energia. 

“A gente analisa pela nossa plataforma e devolve o relatório que vai trazer as oportunidades e o potencial de economia”, diz a executiva da Ennergia. Assim, é possível identificar quão longe ele está do cenário ideal e quanto poderia ser economizado se novas soluções fossem utilizadas. 

Uma das oportunidades para reduzir custo e aumentar eficiência pode ser o acesso ao mercado livre de energia. “Você tem um contrato e agora vai dizer o tipo de energia que você deseja. Além disso, tem o tempo (de duração do contrato). Você precisa saber se vai comprar por um tempo longo ou não”, diz Lara. 

“Se a energia estiver cara e a perspectiva for de redução, você pode fazer um contrato mais curto, por isso é importante fazer o acompanhamento”, complementa a consultora.  

Segundo a AIE (Agência Internacional de Energia, em tradução livre), a implementação abrangente de soluções de eficiência energética tem o potencial de melhorar em mais de 50% a intensidade energética por metro quadrado, métrica que mede a quantidade de energia requerida por unidade de produto ou atividade produzida. 

Inflação da energia pega nos alimentos

O aumento do custo da energia é um dos fatores que tem levado ao aumento da adesão das pequenas e médias empresas do setor de alimentos, inclusive no varejo, a iniciativas de gestão de energia. 

Nesse sentido, O IPCA de outubro de 2024 mostrou que a inflação da alimentação no domicílio passou de 0,56% em setembro para 1,22% no mês referido. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

A alta da inflação, de 0,56% no mês, foi influenciada “principalmente pela energia, que subiu 4,74%, com a vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que acrescenta 7,877 reais a cada 100 kwh consumidos, a partir de 1º de outubro”, divulgou o IBGE em comunicado. 

Assim, os preços do consumo de alimentos fora do lar também aumentaram e ajudaram a empurrar o IPCA como um todo para cima. O segmento é afetado diretamente pelo aumento do preço dos insumos alimentícios utilizados no dia a dia e da energia, duas das linhas que tiveram maior pressão inflacionária no segundo semestre de 2024. 

Energia solar

Assim, além da adesão ao mercado livre de energia, as empresas podem recorrer a equipamentos mais eficientes para reduzir custos e aumentar eficiência. Entre os equipamentos, as placas de captação de energia solar para geração de eletricidade são muito relevantes na proposta de reduzir preço e aumentar efetividade do sistema. 

Há uma notícia que pode preocupar os estabelecimentos interessados em aderir a essa tecnologia: no dia 1º de janeiro de 2024 passou a valer uma nova alíquota de importação dessas placas para o Brasil, passando de 6% para 10,8%.

Porém, o mercado pode aguardar uma gradual redução do valor dessas placas a partir do aumento da oferta no mercado pelo aumento da oferta de placas no mercado, inclusive via empresas brasileiras de atuação global, como a WEG. 

Além disso, “há incentivo recente dado pelos governos para que as empresas financiem a instalação de placas de energia solar”, diz Fabio Guersola, especialista em Gestão Empresarial. “Isso trará uma grande economia para os negócios e para o meio ambiente”, avalia. 

“Temos um cliente que fica em Ilhéus, na Bahia, que cobriu todo restaurante dele com placas que captam a luz solar e transformam em energia, que fizeram ele zerar a conta de energia. Com isso, após 36 meses pagando o investimento, não teve mais que se preocupar com essa questão”, exemplifica Guersola. 

Mas as placas de energia solar e seus benefícios ainda pedem maior investimento público e privado para serem consolidados, e ainda é pouco acessível a toque de caixa para empresas que precisam reduzir seus custos de maneira emergencial. Para hoje, as empresas estão apostando principalmente em equipamentos mais eficientes e energeticamente sustentáveis. 

Equipamentos eficientes para reduzir preços de energia para PMEs

A utilização de tecnologias de ponta, como fogões e fornos de alta eficiência energética e máquinas lava-louças com sistemas de recuperação de calor, podem reduzir os custos ao final de cada mês, apesar do investimento inicial não ser exatamente barato. Um forno combinado Rational, por exemplo, um dos mais conceituados do mercado, está acima dos R$ 65 mil.

Nesse sentido, produtos dessa qualidade, que garantam uma eficiência energética realmente diferenciada, geralmente são acessados por estabelecimentos que tenham custos totais a partir de 500 mil reais, o que não é a realidade dos pequenos e médios

Algumas soluções mais acessíveis são sistemas de iluminação LED de baixo consumo energético. Além disso, utilização de sensores de presença e automação para garantir que as luzes estejam acesas apenas quando necessário.

A Starbucks implementou iluminação LED em várias lojas, resultando em redução significativa no consumo de energia. O McDonald’s tem incorporado tecnologias de eficiência energética em suas cozinhas, como equipamentos com menor consumo elétrico. Apesar de serem redes gigantes, as soluções usadas por eles são acessíveis a empreendimentos menores. 

Assim, a combinação de fontes alternativas com a gestão estratégica de contratos e tarifas pode resultar em uma operação mais resiliente e financeiramente vantajosa para empresas de food service, em especial em períodos de alta volatilidade nos preços de energia. Como Vieira menciona, “não adianta o preço da energia cair se a empresa seguir gastando mal”.