Durante toda a sua trajetória, a indústria de alimentos se desenvolveu a partir do apoio de duas áreas-chave: ciência e tecnologia. Essas impulsionaram e continuam contribuindo para a indústria inovar e desenvolver novas soluções em produtos e em novos ingredientes alimentares.
E hoje que os consumidores estão ainda mais abertos para experimentar alimentos e sabores novos e estimulantes esse suporte tem sido mais requisitado.
Ao mesmo tempo, os consumidores tornaram-se mais conscientes e expressivos sobre o que desejam dos alimentos e bebidas, e isso significa que os fabricantes precisam continuamente repensar como formulam os produtos e os ingredientes de origem. E a ciência e tecnologia são fundamentais para isso.
Como a ciência e a tecnologia auxiliam na criação de novos ingredientes alimentares?
“Tradicionalmente, garantir a segurança do produto era uma dessas contribuições. Agora há também cada vez mais ênfase no cuidado do consumidor, desde a reformulação de produtos e incentivo a uma dieta mais saudável, até a integridade da cadeia de abastecimento e proteção contra fraude alimentar”, explica Flávia Santos, Engenheira de Alimentos e Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos.
De fato, a ciência nutricional moderna está fornecendo cada vez mais informações sobre as funções e mecanismos de componentes alimentares específicos no apoio à promoção da saúde e/ou prevenção de doenças.
Em resposta às demandas de consumidores cada vez mais preocupados com a saúde, a tendência global é que as indústrias de alimentos traduzam as informações nutricionais na realidade do consumidor, desenvolvendo produtos a partir de novos ingredientes alimentares que fornecem não apenas apelo sensorial superior, como também benefícios nutricionais e de saúde.
Além disso, os estilos de vida agitados de hoje também estão impulsionando o desenvolvimento de alimentos saudáveis de conveniência.
“Inovações recentes em tecnologias de alimentos levaram à ressignificação de muitas tecnologias tradicionais, como fermentação, extração, encapsulamento, reposição de gordura e tecnologia de enzimas, para produzir novos ingredientes alimentares com apelo de saudabilidade, reduzir ou remover componentes indesejáveis de alimentos, adicionar nutrientes específicos ou ingredientes funcionais, modificar composições, mascarar sabores indesejáveis (por exemplo, de ingredientes plant-based) ou estabilizar ingredientes”, explica Santos.
A biotecnologia moderna revolucionou até a forma como os alimentos são criados. Descobertas recentes na ciência dos genes, por exemplo, estão tornando possível manipular os componentes dos alimentos naturais.
Em combinação com a biofermentação, compostos naturais desejáveis agora podem ser produzidos em grandes quantidades a um custo mais baixo e com pouco impacto ambiental. A nanotecnologia também está encontrando aplicações potenciais de impacto na área de alimentos e agricultura.
Quais novos ingredientes alimentares têm surgido e quais vantagens eles trazem?
A ciência alimentar contemporânea e a tecnologia contribuem muito para o sucesso do sistema alimentar moderno, integrando áreas como biologia, química, física, engenharia, ciência dos materiais, microbiologia, nutrição, toxicologia, biotecnologia, genômica e muitas outras disciplinas a favor do desenvolvimento de novos ingredientes alimentares e formulações de produtos para ajudar a resolver desafios importantes, como aumentar a segurança alimentar e a trazer mais transparência e naturalidade para a cadeia.
E isso resulta em diversos tipos de novos ingredientes alimentares, como exemplifica a especialista.
“Posso destacar a melhoria do sabor do ingrediente da soja e agentes de mascaramento, ácidos graxos ômega-3 (não há mais sabor de óleo de peixe), desenvolvimento de ingredientes orgânicos, como gomas orgânicas e a disponibilidade de muitos antioxidantes – sementes de uva, chá verde, mirtilo e assim por diante com novas e promissoras aplicações na indústria de alimentos.”
Santos complementa também que “na área de ingredientes de panificação, os avanços nas tecnologias de enzimas têm sido fundamentais. O shelf life, o rendimento da produção e a qualidade do produto foram melhorados drasticamente a partir da ciência e tecnologia aplicados a novos ingredientes alimentares”.
Comunicação com o consumidor é fundamental para a indústria seguir avançando
O que comemos e bebemos foi aperfeiçoado ao longo do tempo graças à ciência e tecnologia alimentar de ponta que permite a criação de melhores ingredientes, de melhorias na agricultura, nos processos industriais, etc.
Um dos desafios para seguir avançando nesse sentido é demonstrar ao consumidor como esses avanços podem ser benéficos.
“Precisamos começar definindo o que significa ciência dos alimentos. Há ciência em todos os alimentos, mas geralmente não se fala muito sobre isso. A forma como é preparado, a maneira como itens são colhidos, limpos, combinados com outros ingredientes, é tudo baseado na ciência. Por isso, ela não deve ser vista como algo alheio a um alimento de qualidade, como ocorre algumas vezes com novas formulações e ingredientes com uso de tecnologias e ciência modernas”, finaliza a especialista.
Para saber mais, confira também nosso artigo sobre como a indústria de ingredientes contribui para os processos de inovação.