Nos últimos anos, o consumo de alimentos orgânicos cresceu significativamente, impulsionado por consumidores cada vez mais conscientes da origem e dos impactos dos produtos que consomem. A carne orgânica se destaca nesse cenário como uma alternativa que busca unir sustentabilidade, qualidade e responsabilidade social.
A seguir, saiba o que caracteriza a carne orgânica, as diferenças em relação à carne convencional, seus benefícios, os critérios de certificação e os caminhos para a adoção desse modelo pela indústria frigorífica.
Relacionado: O que você precisa saber sobre a carne sustentável
O que é carne orgânica?
A carne orgânica é proveniente de animais criados em condições que respeitam tanto o bem-estar animal quanto o meio ambiente. Esse tipo de carne é produzido por meio de um sistema que se preocupa com os aspectos sociais, ambientais e econômicos da produção, conforme define a WWF.
A carne orgânica deve obedecer a um conjunto rigoroso de critérios de produção e manuseio. Entre os principais pontos, destacam-se a proibição do uso de substâncias químicas, como hormônios de crescimento e antibióticos, e a alimentação natural dos animais, baseada em pastagens ou rações orgânicas.
De acordo com a WWF, os alimentos orgânicos, incluindo a carne, são vistos pela população como produtos livres de agrotóxicos. No entanto, o que realmente caracteriza a carne como orgânica vai além disso. A produção orgânica envolve critérios ambientais e sociais fundamentais que garantem um processo mais sustentável e justo.
Esses alimentos são feitos da forma mais natural possível, sem resíduos químicos, e com uma forte preocupação socioambiental. Para garantir a autenticidade, a indústria precisa recorrer a certificações que atestam que o processo de produção segue as normas orgânicas.
Qual a diferença entre a carne orgânica e a carne tradicional?
A principal diferença entre a carne orgânica e a carne convencional reside nas práticas de manejo, alimentação, uso de medicamentos e impacto ambiental. Abaixo, apresentamos os principais pontos de diferenciação entre o boi orgânico e o boi verde (convencional):
Alimentação
Na produção de carne orgânica, os animais são alimentados com rações orgânicas ou pastagens livres de pesticidas sintéticos e aditivos artificiais. Além disso, a suplementação é restrita a alimentos de origem vegetal, com pelo menos 80% desses alimentos sendo orgânicos.
Na pecuária convencional, os animais são frequentemente tratados com pesticidas e fertilizantes sintéticos, como a ureia, para aumentar a produtividade.
Bem-estar animal
A produção orgânica visa proporcionar condições de vida que respeitem os comportamentos naturais dos animais, incluindo o acesso a pastagens livres.
Já na pecuária tradicional, a criação de animais muitas vezes é mais intensiva, com métodos como a permissão de transferência de embriões.
Uso de medicamentos
Na carne orgânica, os tratamentos veterinários são restritos ao uso de produtos fitoterápicos e homeopáticos, e o uso de hormônios e promotores de crescimento é proibido. A utilização de antibióticos é minimizada e restrita em sistemas orgânicos, enquanto na pecuária convencional, é mais comum o uso de medicamentos para maximizar o ganho de peso.
Impacto ambiental
Os processos de produção orgânica favorecem a redução da emissão de carbono e o uso de adubação verde. Já a produção convencional, permite o uso de fertilizantes sintéticos, que podem ter mais impacto no solo e nos recursos hídricos.
Quando uma carne pode ser considerada orgânica?
Para ser considerada orgânica, a carne deve atender a uma série de requisitos específicos estabelecidos por órgãos certificadores. Esses critérios focam principalmente em práticas industriais, controle de qualidade e manejo responsável no frigorífico. Os principais pontos de atenção são:
- Ausência de aditivos sintéticos: nenhum conservante ou aditivo químico pode ser utilizado na carne após o abate.
- Procedimentos de higiene: frigoríficos que processam carne orgânica devem garantir a ausência de contaminação cruzada com produtos convencionais. Isso inclui a separação de linhas de produção e a higienização rigorosa das áreas de armazenamento e equipamentos.
- Rastreabilidade: o processo de produção e processamento deve ser documentado e passível de rastreamento, garantindo a origem e as condições de manejo da carne orgânica.
- Manutenção da qualidade: a carne orgânica deve ser armazenada e transportada de maneira a preservar sua qualidade, mantendo os padrões exigidos para a certificação.
Relacionado: Transporte refrigerado: como funciona e principais cuidados
Selos de certificação para carnes orgânicas
Para garantir que a carne orgânica atende aos critérios de produção e manuseio, as empresas frigoríficas devem obter certificações que atestem sua conformidade com as normas estabelecidas.
No Brasil, o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg), gerido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), é o principal sistema de certificação para alimentos orgânicos, incluindo a carne.
A certificação mais confiável para a carne orgânica, segundo especialistas, é a World Quality Services (WQS), que conta com a colaboração de instituições internacionais como ANSI, Primus GFS e SQF.
As certificações também podem ser credenciadas por organizações como a PAACO (Professional Animal Auditor Certification Organization), UTZ Certified e Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro (CGCRE).
Como obter a certificação de carne orgânica?
As certificadoras de carne orgânica avaliam não apenas os processos técnicos envolvidos na produção, mas também os aspectos sociais e ambientais.
A IFOAM (Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica) é a principal organização internacional que edita as normas básicas de produção para o setor, que servem de base para as certificações locais de cada país.
No Brasil, dois dos principais selos de certificação são:
- Instituto Biodinâmico (IBD): credenciado pela IFOAM, é um selo de reconhecimento internacional.
- Associação de Agricultura Orgânica (AAO): certificação válida apenas no mercado nacional.
A carne orgânica é o futuro da indústria frigorífica?
O mercado de carne orgânica tem demonstrado um crescimento notável, impulsionado por consumidores que priorizam práticas sustentáveis, éticas e mais saudáveis. Embora o custo de produção seja superior ao da carne convencional, o mercado está em expansão, especialmente em nichos que valorizam a qualidade e a responsabilidade socioambiental.
A adoção da produção orgânica por frigoríficos pode oferecer uma diferenciação competitiva e agregar valor à marca, aproveitando uma demanda crescente por produtos que respeitam o meio ambiente e promovem o bem-estar animal.
Embora o futuro da indústria frigorífica inclua diferentes modelos de produção, é esperado que o segmento de carne orgânica ganhe cada vez mais espaço, refletindo o desejo dos consumidores por alimentos mais saudáveis e ambientalmente responsáveis.
Faça o download do ebook Certificações de proteína animal orgânica: exigências a frigoríficos e produtores e entenda os procedimentos para passar a ser um produtor ou vendedor certificado de proteína animal orgânica. Conheça desafios, benefícios e cases relevantes.