As Boas Práticas de Fabricação (BPFs) são um conjunto de diretrizes que garantem a segurança e a qualidade dos produtos na indústria de alimentos e bebidas no Brasil.

O manual de BPF é uma ferramenta fundamental para empresas, pois serve como um guia para manter padrões de higiene, controle de processos e cuidados necessários.

Seguir essas normas não é apenas uma exigência regulatória, mas também uma prática que protege a saúde dos consumidores e fortalece a reputação de marcas. 

Continue a leitura e entenda o que são Boas Práticas de Fabricação de alimentos e bebidas e como implementá-las para evitar riscos a sua empresa e consumidores.

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O que são Boas Práticas de Fabricação?

As Boas Práticas de Fabricação (BPF) são um conjunto de normas e procedimentos que visam garantir a qualidade e a segurança dos produtos alimentícios.

Elas abrangem todas as etapas do processo de produção, desde a escolha e manipulação das matérias-primas até a distribuição do produto final.

A ideia central das BPF é manter um controle rigoroso sobre as condições higiênicas e operacionais, evitando contaminações e falhas que possam comprometer a saúde dos consumidores.

Por dentro do Manual de BPF

Basicamente, o manual de BPF é um documento obrigatório para empresas do ramo alimentício que descreve as operações realizadas pelo estabelecimento, incluindo, no mínimo:

  • requisitos sanitários dos edifícios;
  • manutenção e higienização das instalações, dos equipamentos e dos utensílios;
  • controle da água de abastecimento;
  • pragas humanas;
  • higiene e saúde dos manipuladores;
  • garantia de qualidade do produto final.

As boas práticas estão inseridas no contexto do projeto da qualidade da empresa, com foco preponderante em requisitos higiênico-sanitários para a não contaminação dos alimentos.

“Um bom manual reproduz fielmente a realidade do estabelecimento, descreve detalhadamente a rotina operacional, desde a seleção das matérias-primas até o transporte e armazenamento do produto fabricado e contempla toda a documentação comprobatória da rotina operacional. Ele também precisa ser acessível, claro e objetivo para garantir sua aplicação”, explica a gerente de Inspeção e Fiscalização Sanitária de Alimentos, Cosméticos e Saneantes da Anvisa, Renata Zago.

Para a indústria de alimentos e bebidas, seguir o manual é sinônimo de credibilidade e competitividade. Sem essas práticas, as empresas correm o risco de enfrentar problemas que vão desde a contaminação dos alimentos até a perda da confiança do consumidor, o que pode gerar consequências graves tanto para a saúde pública quanto para a sustentabilidade do negócio.

A partir disso, negócios que adotam essas diretrizes conseguem não só atender às normas regulatórias, mas também criar um ambiente mais eficiente e seguro para seus colaboradores.

Isso reflete diretamente na qualidade dos produtos e na satisfação dos clientes, fatores essenciais para manter a reputação e o sucesso no setor.

Profissional de saúde inspecionando equipamentos em ambiente controlado com máscara e touca para garantir a segurança na fabricação

Legislações a serem consideradas para a elaboração do Manual de BPF

Há uma série de regulamentos que tratam de uma forma abrangente do assunto. Os destaques são a Portaria SVS/MS 326/1997, que define as condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para a indústria de alimentos, e a Resolução RDC 275/2002, que dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. 

Há, também, a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores de Alimentos, que pode ser utilizada como roteiro para a elaboração do manual de sua empresa.

Cabe ressaltar que, para algumas categorias de alimentos, devido às suas particularidades de risco e histórico de potenciais problemas sanitários, foram estabelecidos regulamentos específicos de Boas Práticas de Fabricação. A resolução RDC 352/2002 é um exemplo disso. Ela apresenta normas para estabelecimentos produtores/industrializadores de frutas e ou hortaliças em conserva.

Ainda, há a portaria 1.428/1993, que é de fundamental importância nesse processo. Ela traz diretrizes para estabelecimentos de boas práticas de produção e prestação de serviços na área de alimentos.

Outro destaque é a RDC 216/2004 da Anvisa, que dispõe sobre regulamento técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Os serviços de alimentação devem dispor de Manual de BPF, documentos acessíveis aos funcionários envolvidos e disponíveis à autoridade sanitária, quando requerido.

Quais são os 5 pilares das Boas Práticas de Fabricação?

As Boas Práticas de Fabricação são estruturadas em cinco pilares principais que servem como base para assegurar a qualidade e a segurança no processo de produção de alimentos e bebidas.

Esses fundamentos orientam empresas a manterem o controle e a organização necessários em todas as etapas da fabricação. Com isso, é possível garantir que os produtos finais sejam seguros e estejam em conformidade às normas exigidas.

trabalhador utilizando uma mangueira para limpar equipamentos em um ambiente industrial, vestindo roupas de proteção em uma planta de processamento

Os cinco pilares das BPFs são:

  1. Higiene pessoal: envolve práticas rigorosas de higiene dos colaboradores, incluindo o uso de uniformes adequados, lavagem correta das mãos e cuidados com a saúde e o comportamento no ambiente de trabalho.
  2. Higienização de instalações e equipamentos: trata da limpeza e desinfecção regular das áreas de produção e dos equipamentos utilizados, prevenindo a contaminação dos alimentos.
  3. Controle de pragas: implica em medidas preventivas e corretivas para evitar a presença de pragas no ambiente de produção, garantindo que não haja riscos de contaminação.
  4. Manutenção preventiva: foca na manutenção constante e preventiva de máquinas e equipamentos para assegurar que eles estejam funcionando de forma adequada e segura.
  5. Treinamento e capacitação: envolve a instrução contínua dos colaboradores sobre as práticas de higiene, segurança e procedimentos operacionais para que todos sigam as normas e padrões estabelecidos.

Passo a passo para criar um Manual de BPF

Criar um manual de Boas Práticas de Fabricação é um passo importante para garantir a qualidade e a segurança dos produtos alimentares.

Esse documento deve orientar toda a equipe sobre os procedimentos corretos em cada etapa da produção, assegurando que os padrões de higiene e controle sejam mantidos.

Veja como criar um manual de BPF eficiente:

  1. Apresentação das instalações: descreva a empresa, sua localização, tipo de produtos fabricados e as instalações. Inclua informações sobre paredes, pisos, janelas, tetos, iluminação, instalações elétricas etc.
  2. Descrição das operações: documente detalhadamente as operações realizadas no estabelecimento, desde a recepção das matérias-primas até a expedição do produto final. Inclua os requisitos higiênico-sanitários para cada etapa.
  3. Requisitos de higiene e manutenção: detalhe as práticas de manutenção e higienização das instalações, equipamentos e utensílios, assegurando a regularidade e a eficiência dessas ações.
  4. Controle da água de abastecimento: explique os procedimentos para garantir que a água utilizada na produção seja potável e atenda aos padrões de qualidade.
  5. Controle integrado de pragas e vetores: adicione estratégias de controle preventivo e corretivo para evitar a presença de pragas que possam comprometer o ambiente de produção.
  6. Capacitação profissional e higiene dos colaboradores: descreva as práticas de treinamento e as regras de higiene que os funcionários devem seguir para minimizar riscos de contaminação.
  7. Manejo de resíduos: explique como o descarte e o gerenciamento de resíduos são realizados para evitar contaminações e manter a segurança do ambiente de trabalho.
  8. Procedimentos de controle e garantia de qualidade: inclua processos para monitorar a qualidade dos alimentos produzidos, como análises e registros que permitam rastreabilidade e ações corretivas quando necessário.

Documentos adicionais

Para complementar o manual de BPF, é importante que a empresa inclua documentos adicionais que ajudem a detalhar os processos e garantir a padronização das atividades. 

Um dos principais complementos são os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP), que descrevem, de forma detalhada e sequencial, os passos necessários para realizar tarefas rotineiras e específicas dentro da produção. 

Cada POP deve ter título, objetivo, campo de aplicação e instruções claras para que todos os colaboradores saibam como executar as tarefas corretamente. Eles garantem que os procedimentos sejam realizados de forma uniforme e segura, minimizando erros e riscos.

A empresa também deve incluir planilhas para registrar dados importantes relacionados ao processo de produção, como temperaturas, tempos de processamento, análise de qualidade e outras variáveis.

Além disso, para assegurar que as práticas sejam seguidas corretamente, a empresa pode criar checklists com o intuito de monitorar o cumprimento de tarefas específicas. Essas listas auxiliam na verificação de etapas críticas e garantem que nada seja negligenciado.

Também é essencial documentar formações e treinamentos realizados pelos colaboradores. Essa é uma forma de comprovar que a equipe está devidamente treinada e ciente das práticas de BPF e POP, o que reforça o compromisso da empresa com a segurança e a qualidade.

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Dicas adicionais para elaborar e implementar o manual de BPF de sua indústria de alimentos

Para o desenvolvimento de seu manual, além de levar em conta todas as prescrições normativas, você pode:

  • Pesquisar a legislação específica aplicável ao tipo de negócio da empresa;
  • Mapear os Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) da sua empresa e alinhá-los com as normas da Anvisa, levando em conta questões como os equipamentos e materiais utilizados em cada atividade, o padrão de qualidade que deve ser alcançado, as condições de fabricação e de higiene do ambiente, os métodos e instrumentos de controle e medição utilizados, as práticas de manutenção dos equipamentos, a relação de anomalias possíveis e como lidar com elas, os responsáveis por cada tarefa, como é realizado o controle de vetores e pragas urbanas, entre outros. Esses POPs devem ser posteriormente anexados no Manual de BPF; 
  • Desenvolver Instruções de Trabalho (ITs), detalhando como devem ser aplicados os procedimentos estabelecidos no manual;
  • Esquematizar todos esses pontos anteriores no corpo de seu Manual de BPF;
  • Realizar capacitação da equipe sobre como o manual deve ser seguido e aplicado;
  • Revisar periodicamente o manual e fazer eventuais atualizações. Essa tarefa é, geralmente, feita pelo responsável técnico (RT) da empresa.
profissionais usando EPIs analisando refrigerante em recipiente de vidro

Como implementar o manual de Boas Práticas de Fabricação na indústria de alimentos? 

Implementar o manual de BPF requer planejamento e um comprometimento conjunto da equipe. O primeiro passo é garantir que todos os colaboradores estejam cientes da importância dele e como as boas práticas impactam a segurança e a qualidade dos produtos.

Outras táticas para fazer essa implementação de forma eficiente, incluem:

  1. Treinamento da equipe: antes de iniciar a implementação, é fundamental capacitar os colaboradores para compreenderem os procedimentos descritos no manual e saibam como aplicá-los no dia a dia.
  2. Adaptação de processos: avalie e ajuste os processos existentes para que estejam consoantes às diretrizes do manual de BPF. Isso pode envolver mudanças na disposição do espaço de trabalho, na limpeza e sanitização dos equipamentos e na forma de armazenamento de matérias-primas e produtos finais.
  3. Monitoramento e supervisão: estabeleça um sistema de monitoramento para verificar se as práticas estão sendo seguidas corretamente. Supervisores ou responsáveis devem conduzir inspeções regulares e utilizar checklists para garantir a conformidade.
  4. Documentação constante: é importante que todos os procedimentos e resultados sejam documentados para rastrear a aplicação da BPF e permitir a realização de correções, quando necessário.
  5. Ações corretivas: quando forem detectadas falhas ou desvios nas práticas, é fundamental agir rapidamente para corrigir e prevenir recorrências. Estabeleça protocolos de ação corretiva para que a equipe saiba como lidar com essas situações.

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Riscos do descumprimento do Manual de Boas Práticas para a indústria

A falta de adesão compromete não apenas a saúde dos consumidores, mas também a integridade da própria empresa.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem papel fundamental no monitoramento e na fiscalização do cumprimento das BPF. Não seguir essas normas é uma violação das leis de vigilância sanitária do país.

Quando uma empresa deixa de seguir o manual de BPF, ela está mais suscetível a contaminações, surtos de doenças de origem alimentar e outros problemas que afetam diretamente a saúde pública.

Esse descumprimento pode resultar em multas pesadas, interdições temporárias ou até mesmo a suspensão definitiva das atividades da empresa, prejudicando sua operação e sua reputação no mercado.

A importância do Manual de BPF

O Manual de BPF é uma importante ferramenta da qualidade para o alcance de níveis adequados de segurança dos alimentos.

“É imprescindível que a indústria de alimentos registre seu comprometimento com as boas práticas de fabricação por meio da elaboração de um manual próprio”, indica a coordenadora dos cursos de Alimentos do IFOPE Educacional, Daniela Leão.

A especialista complementa afirmando que “no Manual de BPF, devem estar especificados todos os procedimentos de controle para cada etapa do processamento. Esses documentos acabam sendo oficiais da empresa”.

Além disso, vale lembrar que, além de ser um ato obrigatório e regulatório, ele é uma garantia de qualidade de que o produto consumido é seguro e segue todas as recomendações pertinentes.

Ainda, a partir dessas melhores práticas, é possível, também, padronizar os processos industriais, reduzir perdas de reprocesso ou de descartes de alimentos, garantir a uniformidade dos produtos e ter níveis elevados de segurança para a não contaminação do alimento.

Portanto, seguir as Boas Práticas de Fabricação à risca é essencial para proteger tanto a empresa quanto seus clientes, assegurando a continuidade e a credibilidade do negócio.

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