O mercado de queijos tem experimentado um crescimento expressivo nos últimos anos, impulsionado pela versatilidade do produto, pelo aumento do consumo global e pela valorização de queijos premium e artesanais. 

Em 2023, o mercado global de queijos foi avaliado em US$ 187,42 bilhões, com projeções indicando um crescimento para 287,12 bilhões de dólares até 2032, a uma taxa de 4,61% ao ano, de acordo com a Fortune Business Insights. 

A Europa segue liderando o setor representando 49,13% do mercado, enquanto nos Estados Unidos a indústria de queijos deve atingir 62,66 bilhões de dólares até 2032, impulsionada pelo uso intenso do produto em fast food, como pizzas e sanduíches.

O Food Connection entrevistou Ana Paula Forti, Diretora de Processamento da Tetra Pak Brasil, que destaca como os consumidores estão influenciando o mercado e quais inovações vêm ganhando espaço. 

“O consumo de queijos no Brasil segue crescendo devido à busca por produtos que combinam sabor, conveniência e saudabilidade. Além disso, vemos um interesse crescente por novas categorias, como queijos sem lactose e opções plant-based.”

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Cenário atual do mercado de queijos no Brasil

O mercado de queijos no Brasil está em plena expansão, impulsionado por diversos fatores, incluindo o aumento do poder de compra dos consumidores e mudanças nas preferências alimentares. De acordo com o relatório “Brazil Cheese Market Overview, 2027”, o setor deve adicionar 1,70 bilhão de dólares até 2027, refletindo um crescimento expressivo nas vendas. 

Esse avanço também se deve à maior participação de mulheres no mercado de trabalho e ao crescimento do consumo de fast foods de inspiração europeia, como pizzas e sanduíches, especialmente entre os jovens. As principais marcas que atuam no país incluem Polenghi, Mac’N Cheese, Tirolez, Quata, President, Qualy, Itambé, Polenguinho, Poços de Caldas e Danubio. 

A muçarela destaca-se como o queijo mais consumido no país, seguida pelo queijo prato e pelo requeijão. Estima-se que a produção anual de muçarela no Brasil atinja quase 400 mil toneladas

O segmento de queijos artesanais também tem ganhado destaque, representando cerca de 20% da produção nacional. A busca por produtos sustentáveis e de origem certificada tem impulsionado esse mercado.

Ana Paula enfatiza a importância da tecnologia na otimização dos processos. “O investimento em tecnologia é uma das principais estratégias para melhorar a competitividade de produtos nacionais. O Brasil já começou a adotar linhas produtivas mais eficientes para otimizar custos operacionais.”

Principais tipos de queijo no Brasil

Muçarela

Sua presença é marcante na culinária nacional, especialmente em pizzas, lanches e pratos assados. A muçarela também se destaca no segmento de produtos práticos, tendência apontada por Ana Paula Forti: “Produtos como o stick de muçarela têm grande potencial de crescimento, pois aliam conveniência e saudabilidade, sendo ricos em proteínas e cálcio.”

Queijo prato

Outro queijo amplamente consumido é o queijo prato, que se assemelha ao gouda, com textura macia e sabor suave. Ele é muito utilizado em sanduíches, lanches e tábuas de frios, além de ser um ingrediente essencial em receitas tradicionais. 

Sua aceitação se dá pelo equilíbrio entre sabor e textura, tornando-o um produto versátil e amplamente comercializado em mercados e padarias de todo o país.

Requeijão

O requeijão é um dos queijos mais tradicionais do Brasil, consumido principalmente no café da manhã e em receitas que exigem uma textura cremosa. Ele se destaca pelo seu uso na culinária brasileira, seja como acompanhamento de pães e torradas ou como ingrediente de pratos salgados. 

A demanda pelo requeijão também acompanha a busca por conveniência, com versões light, sem lactose e embalagens menores, atendendo às novas exigências dos consumidores.

Queijo serrano

Um dos queijos artesanais mais antigos do Brasil, produzido na região Sul, conhecido pelo sabor marcante e maturação diferenciada. A demanda por queijos regionais autênticos tem impulsionado ainda mais a indústria, consolidando o Brasil como um dos principais mercados do setor. 

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Novidades na indústria de laticínios

Com o crescimento do mercado de queijos e a diversificação dos produtos, há espaço para inovações. “A valorização dos queijos artesanais e a busca por novas texturas e sabores mostram que o setor ainda tem muitas oportunidades a serem exploradas”, ressalta Forti.

Queijo sem lactose

Com o crescimento das restrições alimentares, a indústria tem investido no desenvolvimento de queijos sem lactose. Tecnologias como a fermentação de precisão permitem a produção de caseína sem origem animal, tornando os produtos mais acessíveis.

A startup DairyX, por exemplo, desenvolveu uma caseína capaz de se auto-organizar em micelas, proporcionando uma textura semelhante à dos queijos tradicionais. Essa inovação pode revolucionar o setor, reduzindo custos e tornando os produtos sem lactose mais competitivos.

Queijo à base de plantas

O segmento plant-based tem avançado com tecnologias que aprimoram o sabor e a textura dos queijos vegetais. “A indústria de queijos vegetais ainda está em estágio inicial no Brasil, mas é um segmento com potencial para expansão, impulsionado pela crescente demanda global por alternativas plant-based”, diz Ana Paula.

Queijo artesanal e regional

O mercado brasileiro tem ampliado a oferta de queijos regionais e de terroir, como canastra, coalho e minas frescal. A certificação de origem fortalece a credibilidade desses produtos, agregando valor ao mercado.

Imagem mostrando a técnica de produção de mozzarella com a mão retirando uma porção da massa de queijo fresco de água.

Oportunidades para diversificação

Além dos queijos mais consumidos, há um mercado crescente para variedades diferenciadas, como:

  • Brie: Macio e sofisticado, muito apreciado em tábuas de frios.
  • Gouda: De sabor suave e levemente adocicado, ideal para diversas receitas.
  • Emmental: Conhecido pelos seus buracos característicos e textura elástica.
  • Grana Padano: Um queijo curado e intenso, perfeito para massas e risotos.
  • Cheddar: Ainda pouco explorado no Brasil, mas com grande potencial de crescimento no segmento de food service.

Forti destaca que o cheddar ainda não é tão reconhecido no Brasil como nos Estados Unidos, onde é o segundo queijo mais produzido. “Há espaço para explorá-lo, especialmente no segmento de food service, com indústrias voltadas para atender essa demanda específica.

Delicioso queijo cremoso com nozes e ervas, perfeito para aperitivos e pratos gourmet, servido em uma tábua de madeira.

Como os novos hábitos de consumo impactam a produção de queijos?

Recentemente, o mercado de queijos tem sido influenciado por mudanças nos hábitos de consumo, conforme apontado por pesquisas atuais. 

Um estudo da Embrapa analisou padrões de consumo de queijos no Brasil, utilizando dados de redes sociais para identificar os tipos de queijos mais mencionados e as formas de consumo mais comuns.

Globalmente, uma pesquisa conduzida pela Tetra Pak em nove países revelou que mais de um terço dos consumidores (36%) aumentou o consumo de queijo durante a pandemia de covid-19. A mussarela e o cheddar foram identificados como os tipos mais populares, representando juntos 50% do consumo global.

Além disso, o mercado global de queijos está projetado para crescer a uma taxa composta anual de 6,9% até 2028, impulsionado pela crescente conscientização sobre os benefícios nutricionais do queijo e pela introdução de produtos com sabores diversificados para atender às preferências dos consumidores.

Para a diretora da Tetra Pak, a conveniência também tem sido um fator determinante. Produtos como snacks de queijo estão ganhando destaque por oferecerem uma combinação ideal de sabor, nutrição e praticidade.”

Como manter a competitividade?

A indústria de queijos no Brasil enfrenta um cenário cada vez mais competitivo, exigindo investimentos em qualidade, tecnologia e sustentabilidade. Confira estratégias essenciais para o setor:

1. Certificações de qualidade e origem certificada

Certificações como Selo Arte, Indicação Geográfica (IG) e Certificação Orgânica agregam credibilidade e atendem à crescente demanda por transparência e garantia de qualidade. Além disso, favorecem a exportação, já que muitos mercados exigem rastreabilidade e altos padrões de produção.

2. Parcerias com produtores locais e valorização do mercado regional

Fortalecer a cadeia produtiva por meio de parcerias com produtores de leite locais assegura matéria-prima de qualidade e impulsiona a produção sustentável. Além disso, fomenta a economia regional e valoriza queijos artesanais, como Canastra, Coalho e Minas Frescal, que ganham cada vez mais espaço no mercado.

3. Automação e controle de qualidade

A modernização da produção garante maior eficiência, reduz desperdícios e padroniza os produtos. Tecnologias como sensores inteligentes e análise em tempo real permitem ajustes precisos durante a fabricação.

Segundo Ana Paula Forti, Diretora de Processamento da Tetra Pak Brasil,
“o Brasil já começou a investir em linhas produtivas mais eficientes para otimizar custos operacionais e fortalecer a competitividade dos produtos nacionais.

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4. Tecnologias de maturação e conservação

Avanços como controle de umidade e temperatura, atmosfera modificada (MAP) e nanoencapsulação de enzimas ajudam a manter o frescor e sabor dos queijos por mais tempo, reduzindo desperdícios e melhorando a experiência do consumidor.

5. Gestão de resíduos e economia circular

A sustentabilidade se tornou um diferencial competitivo. Tecnologias como nano filtração e osmose reversa permitem a recuperação da água usada na produção, reduzindo o consumo e promovendo o reuso.

“Há empresas no setor de laticínios que conseguem recuperar milhares de litros de água por dia”, destaca Forti. Além disso, a valorização do soro do leite abre novas oportunidades, sendo utilizado na produção de proteínas e bebidas funcionais.

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Oportunidades à vista

O mercado de queijos está em constante crescimento, impulsionado por tendências como a valorização de produtos artesanais, o crescimento do segmento plant-based e a busca por alimentos mais saudáveis.

Com o avanço da tecnologia e o desenvolvimento de novas técnicas de fermentação e maturação, o setor tem potencial para expandir e atender a diferentes perfis de consumidores. Empresas que investirem em inovação, qualidade e sustentabilidade terão um diferencial competitivo e poderão se consolidar como referência no setor.

“O setor de queijos ainda tem muito espaço para crescer, especialmente com produtos que atendam à conveniência e saudabilidade. As empresas que souberem equilibrar inovação e custo-benefício terão uma vantagem significativa”, finaliza Ana Paula Forti.