Drones sobrevoando plantações, recolhendo dados para análises e combatendo a infertilidade do solo e a disseminação de doenças e pragas é um dos feitos mais importantes da inteligência artificial no setor de alimentos. Mas o uso não se limita aos primeiros elos da cadeia.
Nesse sentido, o Anuário Abimapi 2025 – da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados –, traz um panorama que busca esclarecer sobre a adesão da IA na indústria e o potencial dessa tecnologia para ganho de produtividade industrial.
“A inteligência artificial já é uma realidade na indústria de alimentos, e nosso papel como associação é justamente promover conhecimento e integração para que todos os players do setor possam compreender seu potencial e aplicar de forma estratégica”, diz o presidente executivo da Abimapi, Claudio Zanão, em entrevista ao Food Connection.
Para ele, a indústria de alimentos do Brasil ainda está em um “processo de adaptação”. Contudo, já há avanços. “As indústrias já percebem que a IA pode ser uma aliada na eficiência produtiva, no desenvolvimento de novos produtos e na otimização da cadeia de suprimentos. Há, sim, um caminho de aprendizado e implementação, mas a busca por inovação faz parte do DNA do nosso setor”, acrescenta.
Nesse sentido, o estudo explica que a inteligência artificial nas plantas industriais pode permitir ajustes na produção em tempo real e com amplo poder de exatidão nas mudanças. Ajustando o ritmo da produção é possível minimizar os riscos de superprodução a níveis muito mais seguros. Assim, a companhia se torna mais sustentável tanto do ponto de vista da redução de gastos quanto da economia do uso de matéria-prima. Isso garante uma saúde inclusive para os estoques das empresas do setor.
Zanão reconhece que a IA ainda é algo mais acessível às grandes empresas e que o acesso para as pequenas e médias é um desafio, considerando que possuem menos recursos para investimentos robustos. “No entanto, vemos uma tendência de democratização, com soluções modulares e acessíveis que podem ser aplicadas de forma escalável”, avalia.
Com a adesão dos pequenos, o salto de qualidade do setor como um todo pode ser notável, especialmente no que diz respeito ao controle de qualidade, com os sistemas de câmeras e sensores equipados com IA para identificar as menores irregularidades nos produtos. Isso pode ser importante inclusive para que as indústrias menores tenham mais chances de atender rígidos padrões internacionais, que facilitam a exportação para grandes mercados no exterior, que, em geral, têm exigências diferentes das aplicadas no mercado interno.
“O acesso às tecnologias emergentes exige investimentos, incentivos e estratégias de longo prazo”, acrescenta. Dessa maneira, com o investimento em novas tecnologias, existe a expectativa que o Brasil possa ser, além do celeiro do mundo, também uma grande fonte de produtos industrializados para todo o planeta. “Quando conversamos sobre competitividade global, sabemos que os mercados mais desenvolvidos partem de uma base tecnológica mais consolidada, mas a indústria brasileira tem mostrado sua capacidade de adaptação e inovação”, diz Zanão.
Assim, a indústria já conta com diferenciais competitivos importantes como “diversificação de portfólio, eficiência logística e criatividade no desenvolvimento de produtos”. Mas é preciso unir isso às novas tecnologias, já amplamente usadas em mercados mais desenvolvidos.